segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Não fazer
Não cantar
Não Dizer
Esperar...

Voando, indo, longe
Um Norte,
Somos filhos de uma passado
E hoje, menos calado,
Vejo quantas palavras
Não deixam de brotar

Assim, frívolo, louco
Distraído, sensível,
um dançarino sem ritmo

Não fazer
Não cantar
Não dizer
Esperar...

Não foi feito para mim
Prefiro meu canto desafinado
Do que a voz que nada diz
Dizer a mim mesmo
A quem quiser ouvir
Ler fingir que não viu
Que aconteceu

Eu sou uma poesia
Ainda sendo construída
No útero da vida!

Edgar Carsan

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

A lua rasga o dia
Querendo tomar
O lugar do sol
Ele sabe que ali
Ela só está perdida
Sem saber se vai
Ou se fica
Se quer ou não quer
Ele a deixa divina
Ela fica ali
Imperiosa
Enquanto ele
Se esconde
Atrás dos seus
Luminosos raios
Que queimam
Os olhares
sabe se deixares
A vista duas vezes ao dia
Ele respeita a ela
Por estar perdida
Tem outros olhares a vida

Edgar Carsan
Uns escolhem aproximação
Outros afastamento
Uns querem a solidão
Outros companheirismo

Eu quero correr
Ver o céu e a lua bonita
A rapidez que chega a nuvem
E tocar o seu desmanche
Meus dedos que tanto
Gostam de tocar
Hoje pegam o ar

Dizia o cantador:
“ a alma presa quer se soltar
Lutar sozinho
Qual o caminho de encontrar “

Dizia o poeta:
“ nos corações humanos a amizade”
Lembraste?

Dizia minha mãe:
Maria, não escreva tanto!
Eu respondia
Palas desiludida!

Feliz da alma que solta
Encontra amizade
No peito alheio
Feliz que como um beija flor
Ambos descansam e se alimentam
E não vão embora um do outro
Quando se afastam

Eu só podia dizer
Como poetisa
Que musa não
É o corpo humano

E a paixão que domina
É quando um carinho
E um cuidar
De uma amizade desperta

E tira uma lagrima desta donzela
Que hoje te escreve escondida
Palas desiludida

Maria Catarina

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Aqueles Segundos do teu Violão



São aqueles segundos Que te salvam a vida São aquelas horas Que te pedem uma saída São aqueles dias Que te contam anos Na passagem do Rio Na passada dos passos Águas que voltam E não voltam mais… Ah! Aquele dedo Que não toca mais A gota fria Ou o último toque No teu labio quente Mas que a gota fria Ou a gota quente Da tua boca Que lembra o Dedo que toca A corda do violão São aqueles segundos Que te salvam a vida...! São aquelas horas Que te pedem saída…!



Edgar Carsan
16/12/2015

Não deixou nem o cheiro

Não deixou nem o cheiro Nem os restos Mas deixou Onde pisou Onde tocou Se deixou O cheiro da manhã O cheiro da flor Da rosa da margarida Do beijo, da orquídea O cheiro, não importa, Este fica No enlaço dos dedos No emaranhado dos cabelos O cheiro, Não importa, Este fica!

Esse réu sabor de cheiro É o pecado guardado Dentro de mim Esse teu sabor de cheiro É um pedaço Que sobrou de mim Dentro de ti...



Edgar Carsan
17/12/2015

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Exclamações e Reticências

Sobre ventos e chamas
Vulcões voos tempestades
Pousos, ares, terras
Poesia, choros e risos luta

Tece a rima bruta
Visões de liberdade
Diversos tons de cores
Fomos Atores
Uns pensam
Artistas, prefiro

Cálido sorriso
Cálices do próprio peito
Embriagues, poesia
Todo dia é um dia, poesia.

A esperança vazia
Persistente, sempre
Não alcança seu conforto
Simplesmente.
A incógnita presente
Não é a mesma de outrora

Outros rumos
Outros barcos
O fim de tarde não visto
Não esconde por sua vez
O nascer da lua

O beija flor,
Enfim pousou
Já não o vejo mais
Uma pena uma pena
Olhos alçam voos
Que com asas apressadas
Não se contentam em pousar…

Falar de amar?
De estar no peito?
Não preciso,
Falei sobre eu te amo
Em cada verso deste poema

Inclusive do nosso corpo
Não despido
E da paixão louca
Na mira do cupido

Escrevi
Todos os dias
Ao não acontecido
Que não esconde,
Por sua vez,
O que deveras aconteceu

Olhar a lua, todo dia,
Vê-la bonita
Tirar fotografia
Não é o mesmo
De uma outra lida

Traz consigo algum sorriso
Algum nascer não visto
De caminhos escondidos

Ondas de dias atrás
Vem de um jeito melífluo

O silêncio da espera,
A próxima palavra 
A ser dita...
O silêncio initerrupto
O silêncio...

E pra não esquecer das reticências
Coloco aqui um desfecho natural
A incógnita se faz agora afinal
Quando não se imagina
Que de súbito
Pode vir trazendo consigo
Gritando gritando gritando
O pulsar do coração
Continuando continuando
Sobre a égide subjetiva
Da palavra que tanto
Buscamos objetivar
De onde vem, pra onde vai
Reticências
Gritando enfim
A incógnita cheia de exclamação !!!


Edgar Carsan
08/10/2015

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

NÃO ME QUEIRA

Quando não quiseres, não me olhe, não me fale, não me dê atenção, não preciso de sua atenção, nem do seu cuidado nem do seu carinho quando não me quiseres dar. Eu já dou a mim mesma, meu corpo, meus pensamentos, minha alma, meu coração. 
Ouça o que digo e cale, leia meus escritos e despreze-os, há mais gentileza neste ato, do que nas suas palavras bestas, do que no fingir amizade. Amizade! Laves tuas mão antes de querer tocá-la, a palavra amizade não é cuspe, ou um abraço opaco a ser dado... Despreze-me! Teu desprezo tem o gozo da liberdade, o sabor insaciável da transparência e um desembaraçar romântico da tal gota de orvalho! Despreze-me com toda a vontade que desejas, não me responda...
Se eu recito é por ser desafinada, se eu improviso é por não ter ritmo... Se quiseres questione minha ortografia, minha sintaxe, minha morfologia... Meu corpo, minha mente, meu coração, não são relicários de palavras lindas... Ao meu olhar, são berços de inspirações... Daquelas que vêm do amar que deveras temos entre todos nós...


Berlim
07/10/2015
Maria Catarina

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Sem título

Tem certos dias que nos bate uma vontade de chorar, tem certos dias que uma tristeza se prolonga por uma vida, tem certos dias que poderíamos ter passado sem que houvesse acontecido, e este sentir-se inútil, impotente, este sentir-se frágil... Culpar-se por não ser feito de chumbo? Culpar-se por não ser a pessoa forte que tanto os homens querem que sejamos? Meu lugar fosse nu correndo em choro desesperado, meu lugar fosse com as faces voltadas para o desenho vazio das linhas do areia de uma praia, ou minha cor negra fosse vista em ossos, com o rosto escondido entre as pernas. É difícil, quando os sentimentos não cabem nas palavras, expressá-las, mas mesmo assim soltamos, mesmo enxergando a vida, que tantos querem falar, como algo tão interligado, tão globalizado, afinal, chora no norte, no centro, no sul, tribos e terras sobre o verdadeiro chumbo que traz a arma quente...    
Talvez eu seja um desses, talvez eu seja àquela menina que tanto queria sair do seu emprego e voar para os braços dos filhos, um refúgio para seus sentimentos, mas que só se pode continuar presa, atrás da tela do computador, afinal, era meio dia ainda do seu expediente que parecia uma eternidade, afinal havia muros do “não poder” no emprego... E um não pode, é o emprego! É Empresa! São as empresas, as pessoas o mundo... Confuso, tudo muito confuso, não poderia me expressar de modo confuso hoje, como se eu sentisse em mim mesmo onde eu deveria estar...
Talvez eu pudesse falar do casamento da fé e da ciência, mas olha a física aplicada a projéteis experimentados em corpos humanos... Quem tem fé que abaixe sua arma! Não me cabe uma poesia, nem palavras para contar, e mesmo que houvesse ainda o sentir-se inútil se preservaria.
Talvez fossemos todos nós, a humanidade inteira assim, e talvez, por algum minuto, eu desejasse estar no lugar do outro, deitado na areia, e dissesse pronto, passou, não terei de ver mais o amor, mas também não terei de ver o ódio. Não terei sorrisos, mas também não terei os olhos molhados, não ouvirei que sou forte, mas também não terei de ouvir que sou dramático... Quanto à esperança? Pandora abriu uma segunda vez a sua caixa de males, e ninguém soube... Ela está entre nós, hoje ela nos é possível, mesmo com toda essa inutilidade que sentimos, mesmo com essa dor que lateja no peito, ela está entre nós.



 


terça-feira, 18 de agosto de 2015

Por que você quer fazer isso?

Por que você quer fazer isso?

Estávamos embriagados com o vinho barato e o cheiro de nossa embriaguez se misturava com o cheiro da febre do rato que nos latejava, misturado à pobreza que nos cercava, sujos e bêbados de um vinho que exalávamos e que nos bebíamos em goles fortes, e depois, voltávamos a realidade sobre o choque pífio de uma palavra chamada traição.

 Por que você quer fazer isso?

 Eu quero me enfiar dentro de você, primeiro a minha língua, só pra sentir o salgado sabor que vem de dentro da sua vagina, só pra você saber que o que foi feito, foi bem feito, foi o teu prazer, e teu passado também está entre as tuas pernas, é com teu passado que também me dá... Foi teu prazer.
Depois, o que eu quero é entrar em você, pra você levar no seu esquecimento alguma traição que tenha acontecido, e depois, quando estiver aberta em outra virilha, lava a sua sede e sua ânsia, deixando lavar este passado que se desenrola agora; através de ti, me uno a outros, e tu, através de mim, se une a outras. E depois, quando estivermos nus um sobre o outro, veremos ao nosso redor que haverá somente pobreza, somente a mendigaria com que a vida nos foi entregue, e até onde conseguimos levar.
Ela me olhou, na minha estúpida ânsia pelo sexo, não perguntei por que você quer fazer isso, de mim, talvez poesia, talvez somente meus dedos, ou minha língua, ou nada! Que eu não fizesse nada, e preservasse nela o quão criminoso seria seu ato.

Por que você quer fazer isso?

Eu tinha que falar... Falar... Apenas falar! Não me importo, eu também era um traidor, da minha consciência, da honra de ser homem, ou qualquer outra coisa, não me importo, eu nunca fui o homem que a sociedade desejasse que eu fosse, e nesta hora, eu era apenas o objeto dela, meu pênis já não me pertencia, nas mãos dela, eu era um bicho de carne, só de carne não basta, não basta ser só o corpo, e naquela hora, não nos bastaria que fosse somente corpo! E depois de gozar, rasgaremos nossa consciência traidora, mas enfim, vai se redimir quando o gozo dele vier e você se deixar invadida, e souber que pode possuir a quem pudesses ou quisesse amar, essa coisa libertadora, que não nos deixa esquecer, mas invariavelmente também não nos deixa lembrar. 

 - Por que você quer fazer isso?

Ela me corrompia a um romantismo que me custara caro, ou a uma realidade que um dia me fora pesada, a uma objetivação que já eu me perdia, e não era minha língua, era a dela, eu dizia palavras, mais era ela que encarnava a poesia, ela era quem expressava, e bebia do que vinha da minha pica.

  Por que você quer fazer isso?

Por que quero que me chame do nome dele, quero que penses nele e me chame do nome dele, do nome que quiseres me chamar, e que saía daqui mais apaixonada por quem quiseres estar, e depois, quando estiveres com ele, saberá que o amou mesmo em outro corpo, que o bebeu mesmo que em outro gozo. Mas nesta hora, já não era ela quem me chamava de outros nomes, era eu quem a chamava, eu que dizia, e gritávamos o nome de quem quer fosse, do Papa, dos Presidentes do mundo, Penélope Cruz. Marlon Brando, o vizinho da esquina, os que haviam nos traído e ali os perdoamos, e dizíamos com tanta força que o gozo se misturava com o choro, e dizíamos “eu te amo eu te amo eu te amo eu te amo...”.

Por que você quer fazer isso?

E acabamos rindo, pelados na bêbada da tarde, bêbados de vinho, gozando em todas as partes possíveis de nossos corpos, nos espalhando, afinal, eram corpos somente, naquela pobreza ao nosso redor. Choramos também nossas dores, todas as tristezas em nossos gozos, e a felicidade de dizer, aqui á alguém que em algum momento da minha vida pude amar.

Por que você quer fazer isso?

Ela por fim me perguntou, traíamos, nos traímos, nos olhamos, já havia sido dito, rimos, nos vestimos, nos beijamos, fechamos a porta do apartamento,  caminhamos até a estação, ela partiu, me pediu um segredo, eu prometi.

Por que você quer fazer isso?


Esta foi à pergunta que ficou, que não volta, saímos rindo, lavamos com amor qualquer traição, pode haver traição quando objetivo não é este? É mais traição? É menos traição? Poderíamos deixar de nos sentir tão felizes? Saímos inocentes, purificados novamente, essa pergunta, ainda vai me seguir, ainda fica comigo, como àquelas que estávamos conscientes do nosso subconsciente, que estávamos entregue, como se essa pergunta não tivesse sido feita, ou como resposta fora dado o silêncio... Por que você quer fazer isso?

Rio de Janeiro, 18/08/2015
Edgar de C. Santana

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Pouso em Ilha Bela

Abriu os braços
Jogou o corpo a frente
E fez como quem voa...

Não voa,
Mas o vento que bate
Passa corta a palavra

E o minuto faz como quem voa
Tanto pra quem vê
Quanto pra quem posa

Quem voa na Ilha bela paulistana
Onde o amor mora em Sampa
Faz numa foto tirada

Um olhar solto voar
O seu corpo se espalhou
Onde nem eu fui imaginar

E era só uma fotografia
Numa ilha bela paulistana

Essa foi só uma poesia
Para quem se chama....

Samba para quem não dança
Pestana no dedo cansa
Quem vai e quem anda

Ainda hei de ver
Nos lábios paulistana
Uma lira que se chama...
Uma lira que é chama...

Ah.... Mas eu que nem aprendi a sambar
Posso ainda querer voar?
Eu que nem aprendi a sambar
Posso chamar a dança

Ah ilha bela,
Não sei ainda sambar
Mas um dia, um dia
Se não for muito pesado
Eu me aprendo a pousar...

Rio de Janeiro, 17/08/2015
Edgar de C. Santana

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

O passado
Era só o passado
O estilo estilo
A estética estética
Quantas mais poderão existir
Mas a obra mais bela
Pode ela ser boa ou má
O novo e passado
Também podem
Ser bons ou más
E uma obra de arte
Não mais...
Passa o filme
Narra a história
Do fim da poesia
Esse encontro mordaz
Alucinante
Em que os homens
Estranhamente trabalham
Para esquecê-la
O pra quê chega a raiz
Da poesia, e a mata!
Pra que amar?
O mar seca...
Por ques não mais
Pra ques antes de por ques
Depois pra ques
O filme termina
Uns choram
Outros o seguram
No fim, todos aplaudem...
Por quê?


Edgar de C. Santana
07/08/2015

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Parte 12 - Treze Meses

Algo errado, ela não o procuraria naquele dia para saber de um dia de volta ao normal dele, tão pouco buscaria lhe trazer notícias de um mundo que já não o pertence... Será que foram essas notícias que a fizera lembrar-se dele? Será que fora alguma forma especial de vazio? Eu prefiro pensar que tenham sido todas as formas, um conjunto delas, repetidas e novas que sempre lhe atraem a um desconhecido, ou um conhecido que ainda lhe atraía o olhar sob formas desconhecidas.
Não havia algo errado então. Ela o procurava não por um erro, talvez por uma série de acasos que a movia e que às vezes nos leva a crer que é o destino... Ou então o próprio destino por ela tracejado nos seus rabiscos de cadernos, corações e flores no alto do cabeçalho. Um destino tracejado que ela própria criara, e que também podia afastá-lo... Afastar o corpo, não é o mesmo que afastar o destino de si. Pois mesmo um poeta, quando deixa de escrever suas poesias, ainda sim será chamado de poeta, não apenas pelo que escreveu, mas pelo que é, pela sua atitude, pelo seu olhar, e enquanto mais ela tentava se afastar disso, de uma poesia, por exemplo, mas se tornava poeta.
O desenhou não como ele era, mas como poderia ser. Ela o imaginou, talvez, soluçando em seus braços por um amor interrompido, o imaginou rindo sem motivos, rindo por rir, e que no final, o simples seria simples, o complicado, simples, o impossível simples, pois o simples poderia estar presente como qualidade, em qualquer um dos objetos, e seria simples para ele, por que tudo para ela era complicado, um real devaneio de sua cabeça, tinha forças para tudo, até para a simplicidade que o ecoara, só não aceitaria, que quando ela fosse simples, ele não visse simplicidade, e que esse ver dele complicado, estivesse nas características comuns das coisas, só que não com irregularidade.
Agora, ela lendo esse curto escrito, percebe que não é nada disso, que é mais simples do que eu, por exemplo, me coloquei a escrever, ela o procurou por procurar, para lhes saber de um dia que ela sabia que chegaria a ele, um dia normal, porém, diferente, uma volta algo ao normal, mas que duvido que para ele seja normal. Talvez, naquela hora do dia normal que ela dormia, ele estivera um tanto triste, uma tristeza que se misturava com a gratidão por dias anteriores, esse pé a pé entre a tristeza e a gratidão.
Mas ainda sim, havia o destino por ela tracejado, como quem diz “Amém” após uma oração, e ele sem entender, o “Amém” sente-se um vazio também, um “Amém” pode representar uma série de coisas, e na cabeça, era tão simples poder ser qualquer coisa, que afastara de sua mente a ideia de um “Amém” ser o mesmo que “desprezo”
Um destino tracejado com dedinhos infantis, um amém que poderia ser um “Eu te amo”, uma fotografia, uma pintura, uma poesia, uma música, e tudo o que pudermos expressar a esse destino desconhecido que nós tracejamos, ou ainda uma série de acasos que a levaria ao encontro, por um acaso, de seu destino tracejado.
“Por um acaso lembrei-me de você estes dias, especialmente lembrei de você hoje, de um modo distinto, tive vontade de soltar uma lágrima” essa lágrima que é uma representação comum a morte e a tristeza, mas que para ele era gratidão não escondida por trás da lágrima comum a morte e a tristeza.
“Lembrei-me de você estes dias...” Também poderia ser um destino por ele tracejado, quando desde a infância se colocara a tirar fotografias dos acasos que lhe cruzavam a vida. “Não poderia ser um acaso eu olhar justo esse tempo e espaço e registrá-lo?” é forte no pensamento brasileiro dizer: “Não cai uma folha sem a permissão dele...” Mas o lado forte às vezes é tão opressor, que ainda olhamos para um dito começo e nos lembramos... “um livre arbítrio” e tudo poderia ser melhor ou pior aos olhos Dele, e tudo poderia ser melhor ou pior aos nossos olhos... E excluindo a parte que cabe ao nós e ficarmos somente com o eu: “tudo pode ser melhor ou pior aos meus olhos...”
Então, quando ainda criança fotografara, por exemplo, a irmã pequenina matando a fome nos mamilos maternos; uma outra vez, fotografou-se nu, ainda com o pintinho pequenino e com fimose exposta, e ambas as fotografias lhe surgiam com um acaso. Porém hoje, quando conseguiu sua primeira autorização para fotografar uma transexual, ele havia fotografado o destino... E os acasos vieram a seu encontro.
Mas se o acaso viera... De onde? Havia um lugar? Onde poderia encontrar uma fábrica de fabricar acaso? Se ambos estivessem juntos teriam rido, só que eles não estavam mais juntos, e não tinham as repostas que eu observara em comum neles.
“Seja por acaso ou por destino, lembrei-me de ti esses dias”... Pode ser o mesmo que “não morre cedo”? Será estúpida essa leitura? Certa vez me disseram isso, e eu não dei importância; outra, quando me disse isso, estranhei! Não gostei que estivesse pensando, mas sim que estivéssemos nós dois pensando em mim e falando sem filtros o que havia para ser pensado, pelo menos naquela hora era o que eu desejava, afinal, não era um alguém que eu não dava importância.
Ele não disse “seja por acaso ou por destino, lembrei-me de ti esses dias”, era isso que desejava ter dito, mas não disse, trocou pelas palavras “não morre cedo...” Quer dizer a mesma coisa? “Não morre cedo” para quem não sabe, é um conceito para “estive falando de você, ou estive pensando em você! Era isso o que ele quis dizer... mas não disse, as palavras se confundem, afinal, há quem interprete de outra maneiram, como eu, um dia interpretei, por senti algo mais, por desejar algo mais... os homens e os sentimentos não são matematicamente puras.... nem as palavras o são!
Do mesmo modo, quando ela lhe respondera “Amém” fora por algo maior? Menor? Dito sem querer? Dito por consideração visto o poder da palavra “Amém”, para ele soara como uma ironia, um desprezo, isso doeu nele. Ele desejou que viesse uma pergunta, que não veio, e assim, nele se estabeleceu o vazio, preenchido pelos vários sentidos da palavra “Amém” num diálogo. Mas não prestou atenção, que ela poderia ter tido consideração pelo “não morre cedo...”. No entanto, o principal, foi que havia algo mais importante, para ela talvez, do que ele pensar nela que era o fato de procurá-lo! Ele não usou as palavras que havia sentido, mas conceituou o sentimento dele com outras palavras, o que se seguiu? Uma simples confusão em seus olhos...
Uma profundidade maior num diálogo, destinos desenhados, acasos, que não possuem uma fábrica, uma origem, pois se é para ser acaso, mesmo que seja repetido, que seja assim, um acaso, e que este acaso também não haja destino para ser dito acaso, ele não pipoca, ele surge, provando talvez que o nada existe, e para o nada volta. Ele uma vez achou que tivesse desenvolvido a teoria do nada... Muitos anos antes do seu nascimento havia uma obra publicada com o título o ser e o nada.

Destino? Acaso? Ela o procurou, ela o desejou, de alguma forma, ela lembrou que ele estivera dentro dela, partira dela essa abertura, essa ruptura, e assim, às vezes ela aparecia como um acaso que aparece e some. Ela surgia como o destino tracejado, nos rabiscos, nas letras tortas, nas primeiras canções de amor aprendidas, nas primeiras fotografias...

Edgar de C. Santana

terça-feira, 30 de junho de 2015

uma mão aberta
uma palma
um carinho
um toque
uma porrada na cara
um tapa
uma posse
um doar
uma face
uma palma
um chute no traseiro
um pé no saco

uma palma mão dedos enlaçados amor no abraço abraço ah... como tudo pode ser confuso a porrada e o carinho

a vida

 também tem disso!!!!!!

Rio de Janeiro, 30/06/2015
Edgar de C. Santama

O título? Teimosa

Mas a flor humana 
é teimosa 
quando pode 
desabrocha 
quando quer
acorda 
quando poda 
com sorte 
vem a fora 

Ah...
mas ela andou 
sozinha 
em sua tristeza 
monotonia
deixou pra lá 
um sorriso 
boa companhia 
deixou se vulgar 
o sozinho 
e não tal o privilégio 

A flor, 
não importa 
brota 
a ida,
a partida, 
eu sigo 
não 
sei se volto 
e quem volta? 
não  perdido 
tão pouco acabado
podemos construir afinal, 
quem topa?

Rio de Janeiro, 30/06/2015
Edgar de C. Santana

Um Isqueiro Perdido

Andou perdido um isqueiro
Um desse grande, Azul,
Um desse de botequim
Que pode ser encontrado
Em qualquer lugar
Justamente esse andou perdido...

Ele procurava ansioso pelo fogo
Buscava pela festa
Algo que estava em seu corpo
pelas mesas pelos risos pela boca
com todas as palavras
e não fora encontrado..
cansado, Deixou pra lá... pegou...

...Um fogo, um emprestado um outro
que por ai crepitava e um de modo
furtivo quando, de repente,

Seu azul escondido ali estava
ascendido em outros dedos
fez de repente aparecido

Um alivio para a poesia
e para um poeta
que busca o fogo
onde está frio
que tira uma poesia
do supérfluo incompreendido
que de vez em quando
se faz com o isqueiro

Que caminha por ai sumido
e se acha onde menos se espera
nos lábios de um artista
ou do carinho de um coração amigo


Rio de Janeiro, 30/06/2015
Edgar de C.Santana

Tem um céu...

Tinha um céu, estava ali quase agora, eu sei eu vi... Saúde, saúva, eu vi, com certeza ele volta, não é possível, afinal, eu olho em volta, eu o percebo nas trocas miúdas de olhares, nos lábios quentes cheios de saliva, nas batidas dos seios, no toque das peles... Tudo bem não vê-lo agora, saúva, saúde, tudo bem, bem... Enquanto isso eu ascendo o cigarro, ás vezes preciso de ter algo em mãos, ás vezes escrevo alguma coisa errada, uma prosa qualquer, só pra me sentir mais humano, só pra dizer que te amo, assim, desse jeito, e não importa aonde vai, o céu está ali, ele me irrita, ele me segue, eu quero segui-lo... Ele estava ali quase agorinha, sorrindo cheio de estrelas pra mim, pra mim, pra mim... Não, para nós, sim, para nós, para todos nós, afinal, mesmo que eu caminhe sozinho pelos becos da incerteza, não me permitirei deixar de viver a coisa boa de sermos nós, de tantos nós que me prendem, há o nós que me solta. Não é a minha vida apenas, é a nossa, de todos nós, eu te amo, nós...


Rio de Janeiro, 30/06/2015
Edgar de C.Santana
Quando vejo 
Quero contar que te vejo  
Quando conto que te vejo 
Que veja o que vejo 
Eu desejo 

Mas como não pode 
Ou não dá 
Então fique a deslumbrar 
Dos meus olhos cheios 
De alegria 
Quando te vejo no meu contar

Rio de Janeiro, 30/06/2015
Edgar de C. Santana

domingo, 7 de junho de 2015

João Cabral de Melo Neto - A Palo Seco



1.1.
Se diz a palo seco
o cante sem guitarra;
o cante sem; o cante;
o cante sem mais nada;
se diz a palo seco
a esse cante despido:
ao cante que se canta
sob o silêncio a pino.

1.2.
O cante a palo seco
é o cante mais só:
é cantar num deserto
devassado de sol;
é o mesmo que cantar
num deserto sem sombra
em que a voz só dispõe
do que ela mesma ponha.

1.3.
O cante a palo seco
é um cante desarmado:
só a lâmina da voz
sem a arma do braço;
que o cante a palo seco
sem tempero ou ajuda
tem de abrir o silêncio
com sua chama nua.

1.4.
O cante a palo seco
não é um cante a esmo:
exige ser cantado
com todo o ser aberto;
é um cante que exige
o ser-se ao meio-dia,
que é quando a sombra foge
e não medra a magia.

2.1.
O silêncio é um metal
de epiderme gelada,
sempre incapaz das ondas
imediatas da água;
A pele do silêncio
pouca coisa arrepia:
o cante a palo seco
de diamante precisa.

2.2.
Ou o silêncio é pesado,
é um líquido denso,
que jamais colabora
nem ajuda com ecos;
mais bem, esmaga o cante
e afoga-o, se indefeso:
a palo seco é um cante
submarino ao silêncio.

2.3.
Ou o silêncio é levíssimo,
é líquido e sutil
que se ecoa nas frestas
que no cante sentiu;
o silêncio paciente
vagaroso se infiltra,
apodrecendo o cante
de dentro, pela espinha.

2.4.
Ou o silêncio é uma tela
que difícil se rasga
e que quando se rasga
não demora rasgada;
quando a voz cessa, a tela
se apressa em se emendar:
tela que fosse de água,
ou como tela de ar.

3.1.
A palo seco é o cante
de todos mais lacônico,
mesmo quando pareça
estirar-se um quilômetro:
enfrentar o silêncio
assim despido e pouco
tem de forçosamente
deixar mais curto o fôlego.

3.2.
A palo seco é o cante
de grito mais extremo:
tem de subir mais alto
que onde sobe o silêncio;
é cantar contra a queda,
é um cante para cima,
em que se há de subir
cortando, e contra a fibra.

3.3.
A palo seco é o cante
de caminhar mais lento:
por ser a contra-pelo,
por ser a contra-vento;
é cante que caminha
com passo paciente:
o vento do silêncio
tem a fibra de dente.

3.4.
A palo seco é o cante
que mostra mais soberba;
e que não se oferece:
que se toma ou se deixa;
cante que não se enfeita,
que tanto se lhe dá;
é cante que não canta,
cante que aí está.

4.1.
A palo seco canta
o pássaro sem bosque,
por exemplo: pousado
sobre um fio de cobre;
a palo seco canta
ainda melhor esse fio
quando sem qualquer pássaro
dá o seu assovio.

4.2.
A palo seco cantam
a bigorna e o martelo,
o ferro sobre a pedra
o ferro contra o ferro;
a palo seco canta
aquele outro ferreiro:
o pássaro araponga
que inventa o próprio ferro.

4.3.
A palo seco existem
situações e objetos:
Graciliano Ramos,
desenho de arquiteto,
as paredes caiadas,
a elegância dos pregos,
a cidade de Córdoba,
o arame dos insetos.

4.4
Eis uns poucos exemplos
de ser a palo seco,
dos quais se retirar
higiene ou conselho:
não o de aceitar o seco
por resignadamente,
mas de empregar o seco
porque é mais contundente.