Por que você quer fazer isso?
Estávamos
embriagados com o vinho barato e o cheiro de nossa embriaguez se misturava com
o cheiro da febre do rato que nos latejava, misturado à pobreza que nos
cercava, sujos e bêbados de um vinho que exalávamos e que nos bebíamos em goles
fortes, e depois, voltávamos a realidade sobre o choque pífio de uma palavra
chamada traição.
Por que você quer fazer isso?
Eu quero me enfiar dentro de você, primeiro a
minha língua, só pra sentir o salgado sabor que vem de dentro da sua vagina, só
pra você saber que o que foi feito, foi bem feito, foi o teu prazer, e teu
passado também está entre as tuas pernas, é com teu passado que também me dá...
Foi teu prazer.
Depois,
o que eu quero é entrar em você, pra você levar no seu esquecimento alguma
traição que tenha acontecido, e depois, quando estiver aberta em outra virilha,
lava a sua sede e sua ânsia, deixando lavar este passado que se desenrola agora;
através de ti, me uno a outros, e tu, através de mim, se une a outras. E depois,
quando estivermos nus um sobre o outro, veremos ao nosso redor que haverá
somente pobreza, somente a mendigaria com que a vida nos foi entregue, e até
onde conseguimos levar.
Ela
me olhou, na minha estúpida ânsia pelo sexo, não perguntei por que você quer fazer isso, de mim, talvez poesia, talvez somente
meus dedos, ou minha língua, ou nada! Que eu não fizesse nada, e preservasse
nela o quão criminoso seria seu ato.
Por que você quer fazer isso?
Eu
tinha que falar... Falar... Apenas falar! Não me importo, eu também era um
traidor, da minha consciência, da honra de ser homem, ou qualquer outra coisa,
não me importo, eu nunca fui o homem que a sociedade desejasse que eu fosse, e
nesta hora, eu era apenas o objeto dela, meu pênis já não me pertencia, nas
mãos dela, eu era um bicho de carne, só de carne não basta, não basta ser só o
corpo, e naquela hora, não nos bastaria que fosse somente corpo! E depois de
gozar, rasgaremos nossa consciência traidora, mas enfim, vai se redimir quando
o gozo dele vier e você se deixar invadida, e souber que pode possuir a quem pudesses
ou quisesse amar, essa coisa libertadora, que não nos deixa esquecer, mas
invariavelmente também não nos deixa lembrar.
- Por que você quer fazer isso?
Ela
me corrompia a um romantismo que me custara caro, ou a uma realidade que um dia
me fora pesada, a uma objetivação que já eu me perdia, e não era minha língua,
era a dela, eu dizia palavras, mais era ela que encarnava a poesia, ela era quem
expressava, e bebia do que vinha da minha pica.
Por que
você quer fazer isso?
Por
que quero que me chame do nome dele, quero que penses nele e me chame do nome
dele, do nome que quiseres me chamar, e que saía daqui mais apaixonada por quem
quiseres estar, e depois, quando estiveres com ele, saberá que o amou mesmo em
outro corpo, que o bebeu mesmo que em outro gozo. Mas nesta hora, já não era
ela quem me chamava de outros nomes, era eu quem a chamava, eu que dizia, e gritávamos
o nome de quem quer fosse, do Papa, dos Presidentes do mundo, Penélope Cruz. Marlon
Brando, o vizinho da esquina, os que haviam nos traído e ali os perdoamos, e dizíamos
com tanta força que o gozo se misturava com o choro, e dizíamos “eu te amo eu
te amo eu te amo eu te amo...”.
Por que você quer fazer isso?
E
acabamos rindo, pelados na bêbada da tarde, bêbados de vinho, gozando em todas
as partes possíveis de nossos corpos, nos espalhando, afinal, eram corpos
somente, naquela pobreza ao nosso redor. Choramos também nossas dores, todas as
tristezas em nossos gozos, e a felicidade de dizer, aqui á alguém que em algum momento
da minha vida pude amar.
Por que você quer fazer
isso?
Ela
por fim me perguntou, traíamos, nos traímos, nos olhamos, já havia sido dito,
rimos, nos vestimos, nos beijamos, fechamos a porta do apartamento, caminhamos até a estação, ela partiu, me
pediu um segredo, eu prometi.
Por que você quer fazer
isso?
Esta
foi à pergunta que ficou, que não volta, saímos rindo, lavamos com amor
qualquer traição, pode haver traição quando objetivo não é este? É mais
traição? É menos traição? Poderíamos deixar de nos sentir tão felizes? Saímos
inocentes, purificados novamente, essa pergunta, ainda vai me seguir, ainda
fica comigo, como àquelas que estávamos conscientes do nosso subconsciente, que
estávamos entregue, como se essa pergunta não tivesse sido feita, ou como
resposta fora dado o silêncio... Por que
você quer fazer isso?
Rio de Janeiro, 18/08/2015
Edgar de C. Santana
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