Estávamos eu e uns
amigos, tomando uma cerveja e comendo uns salgadinhos no Boteco do seu Marinho.
Conversávamos sobre qualquer coisa, de pescaria aos freios dos carros; das
nossas famílias até a milícia. Me mantinha taciturno, pois lia algumas notícias
no jornal e ouvia o forró que tocava no rádio de um carro parado na frente do
boteco, até escutar uma série de baboseiras sobre o Botafogo:
- Cara o que é o Botafogo? O Botafogo nunca
ganhou nada!
- Meu irmão, os caras só fala de Garrincha e
Nilton Santos.
- Fala aê, quantos títulos o Botafogo ganhou
nos últimos 20 anos?
- Nunca ganhou um mundial. No Rio, só o
Flamengo ganhou.
- Ganhou só um título roubado em cima do
Santos.
Eu gostaria de me manter
calado, mas procuro sempre dialogar de um modo que esclarecesse sobre os
problemas do imediatismo, da frivolidade e da pobreza de espírito:
- Não é bem assim, não podemos isolar a
história do presente. Ao olharmos para o histórico, não podemos minimizá-lo com
o hoje, tão pouco isolar os fatos dos seus respectivos contextos.
- Pronto lá vem o Botafoguense.
- Não é rapaz, olha, o Botafogo ganhou uma
pequena Taça do Mundo - Jogando contra os maiores times do mundo.
- Isso é mentira – Disse um deles. Todos
riram, sequer conheciam a história dos seus próprios clubes e tampouco tinham
curiosidade sobre a História alheia.
- O cara quer contar história de quando nem
era nascido.
- Histórias que o avô dele contava.
- Mas a história está presente não? – Questionei.
- Que nada, eu quero saber do aqui e agora!
Quem vive de passado é Museu! – E riam alto.
- Estou querendo explicar a vocês que não faz
sentido pensarmos só aqui e agora, ou então, ninguém poderá falar da história
dos seus times, além da história que é construída agora.
- Então fala aí, quantos nacionais o teu time
ganhou?
- Mas um campeonato carioca e um Rio-São Paulo
tinha mais valor do que um nacional...
- Ah para!
- Quando isso? Nunca!!
- Campeonato brasileiro é brasileiro...
- Teu time nunca jogou uma Libertadores!
- Em 68 chegamos invictos até a Semifinal.
- Todos riram novamente.
- Todos riram, riram alto, falaram mais uma
meia dúzia de piadas.
- O problema é que certos fatos, as instituições
atuais não reconhecem... e desprezam o contexto histórico... – Era inútil, já
riam alto, calei por um tempo, logo passei a rir com eles, sabia que o que pensavam
era tão imediato, frívolo e até certo ponto arrogante. Pelo menos critiquei
procurando não ser fútil e estúpido, e nessa hora, nessa tentativa de lutarmos
contra a pobreza de espírito, até mesmo o riso luta.