Eu fazia o que meu líder
mandava, não tinha muito que questionar, sequer sabia o que deveria ou não ser
questionado. E eu com o bando liderado, em pouco tempo “tocávamos o terror”. Ele mandava tudo, primeiro eu vi, e de ver em
ver agente se acostuma até fazer com que os outros também vejam o que eu fazia.
Na época não era muita
coisa, pegamos um moleque que roubava gás, depois de uns tapas bem dados na
cara o deixamos ir. E não é que o moleque teimou em fazer de novo! Dessa vez, sem
pena, foi a primeira vez que vi um sujeito levar uns bons tiros na cara “esse não rouba mais”, era o que diziam.
E aí as coisas começaram a
valer, qualquer motivo era um desculpa para fazermos a justiça que quiséssemos;
uma justiça que só servia para punir e uma lei que nos garantisse a nossa
liberdade.
Não tinha muita gente que
era contra, nem estado nem cidadão, uns gozavam com a nossa ordem, nosso jeito
de fazer as coisas, e outros, quando retrucavam, agente enchia de bala na cara,
quando não pegava o sujeito, arranjava logo um culpado, negócio feito.
Nosso líder só mandava. Nosso
líder não o era por ter sido questionado, pelo contrário, nosso líder o era por
não ser questionado. Uns tinham medo de questioná-lo, um passa a frente da
ignorância, quem tem medo não ignora.
Cada um abre sua mente de um
jeito complexo e meio difícil de entender. Eu conheci certa vez um cara que de
tanto ler poesias num poste sentiu que alguma coisa estava errada consigo próprio,
outro observando artistas na rua; Outro que belo dia recebeu uma flor de seu filho,
enfim, uma conversa que tivera com alguém num momento mais sensível, essas
coisas.
Comigo aconteceu quando,
depois de muitas vítimas, um corpo me chamou atenção, o corpo caiu no chão como
quem implorava não ser morto, e enquanto todos seguiam eu chorei abraçado àquele
corpo, “viva, por favor” eu repetia como
se essas palavras objetivassem a dor que doía em mim.
Depois de um tempo agarrado
e chorando, chegaram pessoas falando de acalento, de Deus, de vida e nuvens que
passam, eu saí dali, eu corri disso tudo, vivi em minha tristeza, dia a dia,
completamente só.
Pensei em descarregar meu
revólver contra mim, e me perguntei, “por
quê contra os outros é mas fácil?” “Será que sou o único” Depois eu soube
que não, como vocês leram conheci outras histórias, que me lembrava muito do
que minha coroa dizia “Jô meu filho, você
não está sozinho”
Em parte passei a ser meu próprio
líder, ainda com minhas dificuldades, principalmente quando encontro com a
herança dos meus atos em outras pessoas, meus atos se repetindo mesmo tendo
vivido com a vergonha o com a perda de uma pessoa querida. Meus atos chegam até eles, como um dia houvera
chegado em mim.
Não sei o que farei depois, agora
estou aprendendo a me consertar.
Rio de Janeiro,
25/06/2014.
Edgar de C. Santana