terça-feira, 30 de junho de 2015

uma mão aberta
uma palma
um carinho
um toque
uma porrada na cara
um tapa
uma posse
um doar
uma face
uma palma
um chute no traseiro
um pé no saco

uma palma mão dedos enlaçados amor no abraço abraço ah... como tudo pode ser confuso a porrada e o carinho

a vida

 também tem disso!!!!!!

Rio de Janeiro, 30/06/2015
Edgar de C. Santama

O título? Teimosa

Mas a flor humana 
é teimosa 
quando pode 
desabrocha 
quando quer
acorda 
quando poda 
com sorte 
vem a fora 

Ah...
mas ela andou 
sozinha 
em sua tristeza 
monotonia
deixou pra lá 
um sorriso 
boa companhia 
deixou se vulgar 
o sozinho 
e não tal o privilégio 

A flor, 
não importa 
brota 
a ida,
a partida, 
eu sigo 
não 
sei se volto 
e quem volta? 
não  perdido 
tão pouco acabado
podemos construir afinal, 
quem topa?

Rio de Janeiro, 30/06/2015
Edgar de C. Santana

Um Isqueiro Perdido

Andou perdido um isqueiro
Um desse grande, Azul,
Um desse de botequim
Que pode ser encontrado
Em qualquer lugar
Justamente esse andou perdido...

Ele procurava ansioso pelo fogo
Buscava pela festa
Algo que estava em seu corpo
pelas mesas pelos risos pela boca
com todas as palavras
e não fora encontrado..
cansado, Deixou pra lá... pegou...

...Um fogo, um emprestado um outro
que por ai crepitava e um de modo
furtivo quando, de repente,

Seu azul escondido ali estava
ascendido em outros dedos
fez de repente aparecido

Um alivio para a poesia
e para um poeta
que busca o fogo
onde está frio
que tira uma poesia
do supérfluo incompreendido
que de vez em quando
se faz com o isqueiro

Que caminha por ai sumido
e se acha onde menos se espera
nos lábios de um artista
ou do carinho de um coração amigo


Rio de Janeiro, 30/06/2015
Edgar de C.Santana

Tem um céu...

Tinha um céu, estava ali quase agora, eu sei eu vi... Saúde, saúva, eu vi, com certeza ele volta, não é possível, afinal, eu olho em volta, eu o percebo nas trocas miúdas de olhares, nos lábios quentes cheios de saliva, nas batidas dos seios, no toque das peles... Tudo bem não vê-lo agora, saúva, saúde, tudo bem, bem... Enquanto isso eu ascendo o cigarro, ás vezes preciso de ter algo em mãos, ás vezes escrevo alguma coisa errada, uma prosa qualquer, só pra me sentir mais humano, só pra dizer que te amo, assim, desse jeito, e não importa aonde vai, o céu está ali, ele me irrita, ele me segue, eu quero segui-lo... Ele estava ali quase agorinha, sorrindo cheio de estrelas pra mim, pra mim, pra mim... Não, para nós, sim, para nós, para todos nós, afinal, mesmo que eu caminhe sozinho pelos becos da incerteza, não me permitirei deixar de viver a coisa boa de sermos nós, de tantos nós que me prendem, há o nós que me solta. Não é a minha vida apenas, é a nossa, de todos nós, eu te amo, nós...


Rio de Janeiro, 30/06/2015
Edgar de C.Santana
Quando vejo 
Quero contar que te vejo  
Quando conto que te vejo 
Que veja o que vejo 
Eu desejo 

Mas como não pode 
Ou não dá 
Então fique a deslumbrar 
Dos meus olhos cheios 
De alegria 
Quando te vejo no meu contar

Rio de Janeiro, 30/06/2015
Edgar de C. Santana

domingo, 7 de junho de 2015

João Cabral de Melo Neto - A Palo Seco



1.1.
Se diz a palo seco
o cante sem guitarra;
o cante sem; o cante;
o cante sem mais nada;
se diz a palo seco
a esse cante despido:
ao cante que se canta
sob o silêncio a pino.

1.2.
O cante a palo seco
é o cante mais só:
é cantar num deserto
devassado de sol;
é o mesmo que cantar
num deserto sem sombra
em que a voz só dispõe
do que ela mesma ponha.

1.3.
O cante a palo seco
é um cante desarmado:
só a lâmina da voz
sem a arma do braço;
que o cante a palo seco
sem tempero ou ajuda
tem de abrir o silêncio
com sua chama nua.

1.4.
O cante a palo seco
não é um cante a esmo:
exige ser cantado
com todo o ser aberto;
é um cante que exige
o ser-se ao meio-dia,
que é quando a sombra foge
e não medra a magia.

2.1.
O silêncio é um metal
de epiderme gelada,
sempre incapaz das ondas
imediatas da água;
A pele do silêncio
pouca coisa arrepia:
o cante a palo seco
de diamante precisa.

2.2.
Ou o silêncio é pesado,
é um líquido denso,
que jamais colabora
nem ajuda com ecos;
mais bem, esmaga o cante
e afoga-o, se indefeso:
a palo seco é um cante
submarino ao silêncio.

2.3.
Ou o silêncio é levíssimo,
é líquido e sutil
que se ecoa nas frestas
que no cante sentiu;
o silêncio paciente
vagaroso se infiltra,
apodrecendo o cante
de dentro, pela espinha.

2.4.
Ou o silêncio é uma tela
que difícil se rasga
e que quando se rasga
não demora rasgada;
quando a voz cessa, a tela
se apressa em se emendar:
tela que fosse de água,
ou como tela de ar.

3.1.
A palo seco é o cante
de todos mais lacônico,
mesmo quando pareça
estirar-se um quilômetro:
enfrentar o silêncio
assim despido e pouco
tem de forçosamente
deixar mais curto o fôlego.

3.2.
A palo seco é o cante
de grito mais extremo:
tem de subir mais alto
que onde sobe o silêncio;
é cantar contra a queda,
é um cante para cima,
em que se há de subir
cortando, e contra a fibra.

3.3.
A palo seco é o cante
de caminhar mais lento:
por ser a contra-pelo,
por ser a contra-vento;
é cante que caminha
com passo paciente:
o vento do silêncio
tem a fibra de dente.

3.4.
A palo seco é o cante
que mostra mais soberba;
e que não se oferece:
que se toma ou se deixa;
cante que não se enfeita,
que tanto se lhe dá;
é cante que não canta,
cante que aí está.

4.1.
A palo seco canta
o pássaro sem bosque,
por exemplo: pousado
sobre um fio de cobre;
a palo seco canta
ainda melhor esse fio
quando sem qualquer pássaro
dá o seu assovio.

4.2.
A palo seco cantam
a bigorna e o martelo,
o ferro sobre a pedra
o ferro contra o ferro;
a palo seco canta
aquele outro ferreiro:
o pássaro araponga
que inventa o próprio ferro.

4.3.
A palo seco existem
situações e objetos:
Graciliano Ramos,
desenho de arquiteto,
as paredes caiadas,
a elegância dos pregos,
a cidade de Córdoba,
o arame dos insetos.

4.4
Eis uns poucos exemplos
de ser a palo seco,
dos quais se retirar
higiene ou conselho:
não o de aceitar o seco
por resignadamente,
mas de empregar o seco
porque é mais contundente.

Do olhar? Do Desabrochar? Ambos talvez...

Então tudo depende
De como olhamos?
Então tudo depende
De como as as coisas desabrocham?
Relativismos Realismos

Depende do olhas ou do que é olhar?
dependência...

Uma coisa atômica
Pode mesmo ser uma coisa boa?
Um filho
pode mesmo ser uma coisa boa?

Façamos guerras ditaduras
Ganhemos rios de dinheiro
Prendamos no poste,
Façamos um filho
Escrevamos poesias
Digamos o amor
Pelos nossos amigos

Tudo depende do nosso olhar?
Queres me enganar?
Tudo depende no desabrochar?
Queres assim me amar?

Pode ser uma coisa boa
Pode se uma coisa má

Uma rosa matou milhares
Uma outra desabrocha no seu quintal

Viver assim é muito fácil?

Rio de Janeiro, 15/12/2014
Maria Catarina

Hoje eu preciso de uma poesia tua


Maria Catarina

Hoje preciso de um poema
Qualquer um que fale
De riso ou de pranto
De Luta ou de apatia
Que seja teu ou de um outro

Hoje preciso de um poema
Como um vaga-lume
Que chega de surpresa
E me pega calada
E não me deixa cessar
O meu olhar sobre a flor do teu peito

Hoje preciso de um poema
Não sei bem o por quê
Tampouco a ordem com que virá
Não posso explicar
Mas todos precisam de um poema
Até o poeta precisa de um poema

Hoje eu preciso de sua poesia
Que contenha lágrimas do meu dia
Da manhã que passou
E na rotina não fora vista
Coloque uma flor, pode ser uma pétala

Pode ter qualquer cadência triste
Das formiguinhas humanas
Das operárias e das rainhas
E pode ter uma paixão rompida
Que haja um acaso e um destino
Assim, escondido, nas conversas
Que temos com os amigos

Hoje eu preciso de um poema
Não precisa ser o outro
Mas que tenha uma pergunta:
E qual pergunta?
A que se nos deixa vaga...

Todos precisam de um poema
Que piscam lá longe,
E um a um crescem
Na escuridão que cerca a montanha
São tantos que agora sabemos onde ir...

Não,
Agora eu não mais preciso de um poema...





É SÓ UM CISCO

Muitos já disseram isso, é como se levantasse o tapete, como se descobrisse algo, como se o mundo se abrisse aos olhos... ou então como se nossos olhos descobrissem o mundo. Ela estava tão longe, eu não poderia vê-la de outra maneira. O que vinha no coração, era um canção antiga que eu cantarolava para que ela ouvisse enquanto fingia que dormia. Eu sabia como era, junto com o cafuné que lhe dava, seus olhinhos fechando vagarosamente, preparando-se para o dia seguinte em que ela usaria o lápis de cor e pintaria o meu sorriso numa flor, ou ainda a lágrima que me escorria, e ela fingia não escutar, enquanto eu fingia a ela que dormia.

 - Pra que chorar? É só um cisco...

Sim, um pedaço de uma poeira que ficou para trás, e a noite, ela corria e me sufocava, tinha alguma coisa no armário, na luz que se apagava, era quando ela corria e se jogava e dormia, e o sono dela que me acalentava, aquele ar quente que ela expelia, dormia tranquila, e toda noite eu sentia sua falta, mesmo ali presente, queria colocá-la em mim novamente, e se possível abraçá-la, com os abraços que só ela podia retribuir.
Mas a vida é tão doce, que nos presenteia com aquilo que não pensamos que poderíamos ter, mas a vida é tão doce e também triste, o lado oposto a doçura, a cabeça no paraíso e os pés no inferno... Mentira! Não é possível que nos haja apenas esses opostos vastos, esse paraíso e inferno, essa mesma moeda, que a consciência se desdobra para achar um ponto de equilíbrio.
Então ela pintava seus sorrisos numa flor, e um dia, quando não havia mais cor, ela inverteu as bolas, passou a pintar a ausência, seu mundo cresceu, sua voz mudou, seu amor, uma falsidade dessas que se encontra numa esquina, ela passou a pintar essas coisas, tentando esconder o passado que estava na ponta do seu nariz, e toda a cor não era cor nenhuma, não era cor de nada, e a solidão que tanto buscara, que tanto aos outros incitara, era uma mentira, ela não estava sozinha, não era sozinha, tão pouco conhecia sobre a solidão.
Um dia, quando não havia tempestade em minha vida, quando estrelas cadentes enfeitavam meu céu, essa doce voz me retornou, não era a destruição que fizeram a ela, mas a que provocara que vinha com ela e o prazer que lhe dava em se fingir vítima, mas do que houvera sido, além do que cometera de crime, sua sombra já não era mais inconstante, se fazia presente até mesmo na escuridão, o que sobrou-lhe do orgulho, foi apenas o fingir não chorar, enquanto me banhava em lágrimas... e apesar de toda a teoria que aprendera, as coisas se resumiam a um guardar de mesas de uma bar.

 - E agora? Para onde vou?
 - Deixo-lhe a sensação de um riso feliz e do meu abraço quente!
 - Eu nunca vou saber... apesar das coisas simples que me dá, o que será desse meu vazio?

Sorrimos... sabíamos o que fazer, nos queriam robô, mas como o ser se somos humanos? Rimos, uma hora o passado voltaria, de outras formas, podíamos filtrá-lo, eu sabia, mas, no jardim a nossa frente, onde no chão havia um desenho da amarelinha, e três letras escrevendo CÉU! Era, o nosso jardim, ela nem via... o havia esquecido... individualismo... eu sei, um dia eu também não vi... deixei ela chorar no seu rir... logo mais ela veria... não antes de  me perguntar melíflua, onde está o meu vazio?

Maria Catarina, 31/05/2015
Prosas Poéticas.