Não
venho de uma classe social privilegiada com acesso á informação, cultura, educação
e saúde. Não possuo, e nem me norteio por um emprego dos sonhos, que a maioria,
certamente em algum ponto da sua existência visualizou ou visualizará.
Para
meus irmãos, para meus conhecidos, para o lugar que vivi o emprego dos sonhos
não é o de escriturário do Banco do Brasil ou alto posto nas forças armadas, na verdade o
amargo sonho é de não ter quem indique a uma vaga na Petrobrás, por pensarem que o petróleo irá tirar o Brasil da miséria, da fome, e incluirá o
Brasil no rol dos países desenvolvidos, e que poderia fazê-los ascenderem á uma classe
social, uma ascensão que não se concretizou, e que eu nunca acreditei que se concretizaria.
Hoje,
vejo-nos como esquecidos da humanidade, altamente dependentes de uma máquina burocrática
falida, todas as minhas raízes sucumbidas a fios ópticos magnéticos, ao um ciberespaço
virtualmente ilimitado, mais que em parte, do uso que lhes é feito, podemos medir o
cumprimento da parede, através de um bate-papo qualquer, nos intervalos, ou no
show de um artista popular.
Entretanto,
não me vejo como utopista, como um louco, por não sonhar o emprego dos sonhos,
por que o meu emprego dos sonhos, faz com que outros mil vivam num pesadelo
sem fim, por que emprego dos sonhos não é um sonho, é uma mentira, sonhar em
ser um consumidor potencial não me traz a felicidade, e a felicidade, ela só
pode ser construída coletivamente, de uma fraternidade entre os indivíduos, enxergando
suas próprias deficiências sociais. A felicidade individual é uma anestesia,
existem os que se sentem realizados, e realizaram mais do que outros, no
entanto, que indivíduo pode se dizer mais feliz que o outro?
Desta
forma, o que me norteia, é a possibilidade de um dia ter condições de
participar socialmente além de fios ópticos magnéticos, pois simplesmente, a
máquina tecnocrática me impossibilita de estar presente como muitos outros.
De participar pela sociedade, por que apesar de toda a dificuldade de sorver um
ínfimo de informação e de cultura, pude perceber que todos os indivíduos são
fundamentais, e que a participação e atuação social de todos, é o que torna um
lugar, um mundo, uma casa melhor para vivermos. Sei que começo me fazer valer
de outros dispositivos, que tem como base, o voto, é claro, sei que começo a me
libertar de temores e repressões ideológicas.
Por
que a máquina de gerar temor impossibilita a mim e aos meus irmãos de participarmos
socialmente, de nos sentirmos políticos, e não somente a quem elegemos como representantes
de políticos, serem os políticos de fato; Uma subjetiva máquina nos induz a
acreditar que não há apenas um olho que tudo vê, mas também uma pistola
escondida, apontada para nossas cabeças.
Assim,
não podemos ser felizes diante de toda uma repressão física e mental, que se
perpetua por todas as classes, seja no anúncio da TV no ônibus, seja na
impossibilidade de se discutir politicamente no lugar que vivemos.