domingo, 31 de maio de 2015

Rio de Janeiro, 31/05/2015
Maria Catarina


E pra olhar o que estavas  a vir
Qualquer um enxergaria
E para saber a hora de ir
Qualquer um poderia

Esta noite ela dormiu
Disseram-lhe que tinha alegria
E assim ela lutava
É possível a ela não falar de risos?

Alguém lhe disse, a uma hora atrás
Que tê-la conhecido era algo bom
E todo dia de manhã
Então passou ouvir uma música
Repetidas vezes
Nem uma  "Loucura" é em vão...

Ela disse também que era só
Uma florzinha só, a única
Plantinha de uma terra negra
Que ainda não florescia

Ela disse que preferiu ser só
Depois dessas hipocrisias
Que encontrara pela esquina

Foi uma escolha de coração
Dessas sem pensar
Que a fez voar
E sua chama passou para
Os sorrisos alheios

E num rompante
Meio sem saber
Ela estava contagiando
Os sorrisos por aí
Solitária e amante
E a vida fervendo em suas mãos

Ela ouviu que era alegre
Quando tristemente
Olhava a memória

Estava leve
Tão leve
Que dormiu...

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Da alma a Flor e Vice Versa

Flutuar, devaneios,
Centeios do comum
Um mundo a ceder
Do alto, a vista,
Uma beleza que se revela

Abaixo, a terra profunda,
Outra vida, outro mundo,
Ali, uma outra descoberta...

Das raízes a flor,
Do alto, um a um,
A vista é outra...

A mesma flor inclusive,
Presa a terra
No ar a mostra
Mesmo aberta
Se abre uma outra vez

Não é então, ao olhar,
Que as flores se abrem
Mas a nossa alma
É que se faz revelar

Quanto as pétalas,
Seja da alma ou das flores,
Em igualdade
Se espalham juntas pelo ar
Rio de Janeiro, 27/05/2015
Edgar de C. Santana


quarta-feira, 20 de maio de 2015

Faísca

Ah Esses olhos brilhantes
Com que se apresentam
Contagiosos de serem amantes
Dos meus olhos que não calam

Lacrimejo de uma alegria
Que tão perto bate a porta
De  uma esquina que a voz dizia:
Cuidado! Segue uma rua torta...

Mas que rua pode ser viva
Se não der ao peito uma mordida
Ou da alma não tira uma faísca?

A faísca contagiante inspirada
Brilha onde o passo faz morada
Lá no canto onde grita e faz morada!

Rio de Janeiro, 18/05/2015
Edgar de C. Santana

terça-feira, 19 de maio de 2015

TEU RISO *

Pablo Neruda -  Os Versos do Capitão 

Eis o que me trouxe esta manhã o Beija Flor:

"Fiquei meio na dúvida de te mandar o poema abaixo, mas já ouvi você falar tantas vezes da importância do riso e sorriso na sua vida. Achei melhor mandar."

"Tira-me o pão, se quiseres,
Tira-me o ar, mas não
Me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
A lança que desfolhas,
A água que de súbito
Brota da tua alegria,
A repentina onda
De prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
Com os olhos cansados
As vezes por ver
Que a terra não muda,
Mas ao entrar teu riso
Sobe ao céu a procurar-me
E abre-me todas
As portas da vida.

Meu amor, nos momentos
Mais escuros solta
O teu riso e se de súbito
Vires que o meu sangue mancha
As pedras da rua,
Ri, porque o teu riso
Será para as minhas mãos
Como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
Teu riso deve erguer
Sua cascata de espuma,
E na primavera, amor,
Quero teu riso como
A flor que esperava,
A flor azul, a rosa
Da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
Do dia, da lua,
Ri-te das ruas
Tortas da ilha,
Ri-te deste grosseiro
Rapaz que te ama,
Mas quando abro
Os olhos e os fecho,
Quando meus passos vão,
Quando voltam meus passos,
Nega-me o pão, o ar,
A luz, a primavera,
Mas nunca o teu riso,
Porque então morreria."



* E como o Riso Luta tem uma história... Assim como os poemas que se ligam a ele...

Emparedado

Poucos são os anos
Da tua legislativa liberdade
Longos são os anos
Do teu chorar de Igualdade

Hoje buscamos cantares distintos
Que Aqui e Acolá,
No pouco tempo que dá
O dia , e seus ritmos,
Uma vaga noção
De quem um vez lutou
Nas correntes...

E o que cantou
Nos cantos do nosso coração
Deixou sementes!

Hoje sem tempo
Busco ainda fragmento
Do teu passado longínquo
E me encontro com um emparedado
Que mesmo a alma
Sem ter aonde ir,
Não se manteve Calado
Pois a alma não vai
Ela se espalha
E em mim se espalhou

Para que mesmo em fragmento
Possa trazer de volta
A sua prosa
Sobre artista negro e inspirado
Porém, emparedado,
Pelas amarras dos preconceitos...
Os sonhos, poeta,
Estes, não ficam presos...


Emparedado*

 (...) Eu ficara a contemplar, como que sonambulizado, como o espírito indeciso e febricitante dos que esperam, a avalanche de impressões e de sentimentos que se acumulavam em mim à proporção que a noite chegava com o séquito radiante e real das fabulosas Estrelas. (...)
(...) Ah! aquela hora era bem a hora infinita da Esperança!
De que subterrâneos viera eu já, de que torvos caminhos, trôpego de cansaço, as pernas bambaleantes, com a fadiga de um século, recalcando nos tremendos e majestosos Infernos do Orgulho o coração lacerado, ouvindo sempre por toda a parte exclamarem as vãs e vagas bocas: Esperar! Esperar! Esperar! (...)
(...) Por isso é que essa hora sugestiva era para mim então a hora da Esperança, que evocava tudo quanto eu sonhara e se desfizera e vagara e mergulhara no Vácuo... Tudo quanto eu mais eloquentemente amara com o delírio e a fé suprema de solenes assinalamentos e vitórias.
Mas as grandes ironias trágicas germinadas do Absoluto, conclamadas, em anátemas e deprecações inquisitoriais cruzadas no ar violentamente em línguas de fogo, caíram martirizantes sobre a minha cabeça, implacáveis como a peste.
Então, à beira de caóticos, sinistros despenhadeiros, como outrora o doce e arcangélico Deus Negro, o trismegisto, de cornos agrogalhardos, de fagulhantes, estriadas asas enigmáticas, idealmente meditando a Culpa imeditável; então, perdido, arrebatado dentre essas mágicas e poderosas correntes de elementos antipáticos que a Natureza regulariza, e sob a influência de desconhecidos e venenosos filtros, a minha vida ficou como a longa, muito longa véspera de um dia desejado, anelado, ansiosamente, inquietamente desejado, procurado através do deserto dos tempos, com angústia, com agonia, com esquisita e doentia nevrose, mas que não chega nunca, nunca! (...)
(...) E, abrindo e erguendo em vão os braços desesperados em busca de outros braços que me abrigassem; e, abrindo e erguendo em vão os braços desesperados que já nem mesmo a milenária cruz do Sonhador da Judéia encontravam para repousarem pregados e dilacerados, fui caminhando, caminhando, sempre com um nome estranho convulsamente murmurado nos lábios, um nome augusto que eu encontrara não sei em que Mistério, não sei em que prodígios de Investigação e de Pensamento profundo: — o sagrado nome da Arte, virginal e circundada de loureirais e mirtos e palmas verdes e hosanas, por entre constelações. (...)
(...) Foi bastante pairar mais alto, na obscuridade tranqüila, na consoladora e doce paragem das Idéias, acima das graves letras maiúsculas da Convenção, para alvoroçarem-se os Preceitos, irritarem-se as Regras, as Doutrinas, as Teorias, os Esquemas, os Dogmas, armados e ferozes, de cataduras hostis e severas. (...)
 (...) Os temperamentos que surgissem: — podiam ser simples, mas que essa simplicidade acusasse também complexidade, como as claras Ilíadas que os rios cantam. Mas igualmente podiam ser complexos, trazendo as inéditas manifestações do Indefinido, e intensos, intensos sempre, sintéticos e abstratos, tendo esses inexprimíveis segredos que vagam na luz, no ar, no som, no aroma, na cor e que só a visão delicada de um espírito artístico assinala. (...)
 (...) Assim é que eu sonhara surgirem todas essas aptidões, todas essas feições singulares, dolorosas, irrompendo de um alto princípio fundamental distinto em certos traços breves, mas igual, uno, perfeito e harmonioso nas grandes linhas gerais. (...)
(...) Assim é que eu via a Arte, abrangendo todas as faculdades, absorvendo todos os sentidos, vencendo-os, subjugando-os amplamente. (...)
(...) Assim é que eu a compreendia em toda a intimidade do meu ser, que eu a sentia em toda a minha emoção, em toda a genuína expressão do meu Entendimento — e não uma espécie de iguaria agradável, saborosa, que se devesse dar ao público em doses e no grau e qualidade que ele exigisse, fosse esse público simplesmente um símbolo, um bonzo antigo, taciturno e cor de oca, uma expressão serôdia, o público A+B, cujo consenso a Convenção em letras maiúsculas decretara. (...)
(...) No entanto, para que a Arte se revelasse própria, era essencial que o temperamento se desprendesse de tudo, abrisse vôos, não ficasse nem continuativo nem restrito, dentro de vários moldes consagrados que tomaram já a significação representativa de clichês oficiais e antiquados. (...)
(...) Muitos diziam-se rebelados, intransigentes — mas eu via claro as ficelles dessa rebeldia e dessa intransigência. Rebelados, porque tiveram fome uma hora apenas, as botas rotas um dia. Intransigentes, por despeito, porque não conseguiam galgar as fúteis, para eles gloriosas, posições que os outros galgavam. (...)
(...) Era uma politicazinha engenhosa de medíocres, de estreitos, de tacanhos, de perfeitos imbecilizados ou cínicos, que faziam da Arte um jogo capcioso, maneiroso, para arranjar relações e prestígio no meio, de jeito a não ofender, a não fazer corar o diletantismo das suas idéias. Rebeldias intransigências em casa, sob o teto protetor, assim uma espécie de ateísmo acadêmico, muito demolidor e feroz, com ladainhas e amuletos em certa hora para livrar da trovoada e dos celestes castigos imponderáveis!(...)
O que eu quero, o que eu aspiro, tudo por quanto anseio, obedecendo ao sistema arterial das minhas Intuições, é a Amplidão livre e luminosa, todo o Infinito, para cantar o meu Sonho, para sonhar, para sentir, para sofrer, para vagar, para dormir, para morrer, agitando ao alto a cabeça anatematizada, como Otelo nos delírios sangrentos do Ciúme... (...)
(...) Certos espíritos d’Arte assinalaram-se no tempo veiculado pela hegemonia das raças, pela preponderância das civilizações, tendo, porém, em toda a parte, um valor que era universalmente conhecido e celebrizado, porque, para chegar a esse grau de notoriedade, penetrou primeiro nos domínios do oficialismo e da cotterie. (...)
 (...) Ah! benditos os Reveladores da Dor infinita! Ah! soberanos e invulneráveis aqueles que, na Arte, nesse extremo requinte de volúpia, sabem transcendentalizar a Dor, tirar da Dor a grande Significação eloqüente e não amesquinhá-la e desvirginá-la!
A verdadeira, a suprema força d’Arte está em caminhar firme, resoluto, inabalável, sereno através de toda a perturbação e confusão ambiente, isolado no mundo mental criado, assinalando com intensidade e eloqüência o mistério, a predestinação do temperamento.
É preciso fechar com indiferença os ouvidos aos rumores confusos e atropelantes e engolfar a alma, com ardente paixão e fé concentrada, em tudo o que se sente e pensa com sinceridade, por mais violenta, obscura ou escandalosa que essa sinceridade à primeira vista pareça, por mais longe das normas preestabelecidas que a julguem, — para então assim mais elevadamente estrelar os Infinitos da grande Arte, da grande Arte que é só, solitária, desacompanhada das turbas que chasqueiam, da matéria humana doente que convulsiona dentro das estreitezas asfixiantes do seu torvo caracol. (...)
(...) O Artista é que fica muitas vezes sob o signo fatal ou sob a auréola funesta do ódio, quando no entanto o seu coração vem transbordando de Piedade, vem soluçando de ternura, de compaixão, de misericórdia, quando ele só parece mau porque tem cóleras soberbas, tremendas indignações, ironias divinas que causam escândalos ferozes, que passam por blasfêmias negras, contra a Infâmia oficial do Mundo, contra o vício hipócrita, perverso, contra o postiço sentimento universal mascarado de Liberdade e de Justiça. (...)
(...) Deus meu! Por uma questão banal da química biológica do pigmento ficam alguns mais rebeldes e curiosos fósseis preocupados, a ruminar primitivas erudições, perdidos e atropelados pelas longas galerias submarinas de uma sabedoria infinita, esmagadora, irrevogável!
Mas, que importa tudo isso?! Qual é a cor da minha forma, do meu sentir? Qual é a cor da tempestade de dilacerações que me abala? Qual a dos meus sonhos e gritos? Qual a dos meus desejos e febre? (...)
Sim! Tu é que não podes entender-me, não podes irradiar, convulsionar-te nestes efeitos com os arcaísmos duros da tua compreensão, com a carcaça paleontológica do Bom Senso.
(...) Ah! Destino grave, de certo modo funesto, dos que vieram ao mundo para, com as correntes secretas dos seus pensamentos e sentimentos, provocar convulsões subterrâneas, levantar ventos opostos de opiniões, mistificar a insipiência dos adolescentes intelectuais, a ingenuidade de certas cabeças, o bom senso dos cretinos, deixar a oscilação da fé, sobre a missão que trazem, no espírito fraco, sem consistência de crítica própria, sem impulsão original para afirmar os Obscuros que não contemporizam, os Negados que não reconhecem a Sanção oficial, que repelem toda a sorte de conchavos, de compadrismos interesseiros, de aplausos forjicados, por limpidez e decência e não por frivolidades de orgulhos humanos ou de despeitos tristes. (...)
(...) O que em nós outros Errantes do Sentimento flameja, arde e palpita, é esta ânsia infinita, esta sede santa e inquieta, que não cessa, de encontrarmos um dia uma alma que nos veja com simplicidade e clareza, que nos compreenda, que nos ame, que nos sinta.
É esta bendita loucura de encontrar essa alma para desabafar ao largo da Vida com ela, para respirar livre e fortemente, de pulmões satisfeitos e límpidos, toda a onda viva de vibrações e de chamas do Sentimento que contivemos por tanto e tão longo tempo guardada na nossa alma, sem acharmos uma outra alma irmã à qual pudéssemos comunicar absolutamente tudo.
E quando a flor dessa alma se abre encantadora para nós, quando ela se nos revela com todos os seus sedutores e recônditos aromas, quando afinal a descobrimos um dia, não sentimos mais o peito opresso, esmagado: — uma nova torrente espiritual deriva do nosso ser e ficamos então desafogados, coração e cérebro inundados da graça de um divino amor, bem pagos de tudo, suficientemente recompensados de todo o transcendente Sacrifício que a Natureza heroicamente impôs aos nossos ombros mortais, para ver se conseguimos aqui embaixo na Terra encher, cobrir este abismo do Tédio com abismos de Luz!
(...) Eu não pertenço à velha árvore genealógica das intelectualidades medidas, dos produtos anêmicos dos meios lutulentos, espécies exóticas de altas e curiosas girafas verdes e spleenéticas de algum maravilhoso e babilônico jardim de lendas...
Num impulso sonâmbulo para fora do círculo sistemático das Fórmulas preestabelecidas, deixei-me pairar, em espiritual essência, em brilhos intangíveis, através dos nevados, gelados e peregrinos caminhos da Via-Láctea...
E é por isso que eu ouço, no adormecimento de certas horas, nas moles quebreiras de vagos torpores enervantes, na bruma crepuscular de certas melancolias, na contemplatividade mental de certos poentes agonizantes, uma voz ignota, que parece vir do fundo da Imaginação ou do fundo mucilaginoso do Mar ou dos mistérios da Noite — talvez acordes da grande Lira noturna do Inferno e das harpas remotas de velhos céus esquecidos, murmurar-me:
— "Tu és dos de Cam, maldito, réprobo, anatematizado! Falas em abstrações, em Formas, em Espiritualidades, em Requintes, em Sonhos! Como se tu fosses das raças de ouro e da aurora, se viesses dos arianos, depurado por todas as civilizações, célula por célula, tecido por tecido, cristalizado o teu ser num verdadeiro cadinho de idéias, de sentimentos — direito, perfeito, das perfeições oficiais dos meios convencionalmente ilustres! Como se viesses do Oriente, rei!, em galeras, dentre opulências, ou tivesses a aventura magna de ficar perdido em Tebas, desoladamente cismando através de ruínas; ou a iriada, peregrina e fidalga fantasia dos Medievos, ou a lenda colorida e bizarra por haveres adormecido e sonhado, sob o ritmo claro dos astros, junto às priscas margens venerandas do Mar Vermelho!
Artista! Pode lá isso ser se tu és d’África, tórrida e bárbara, devorada insaciavelmente pelo deserto, tumultuando de matas bravias, arrastada sangrando no lodo das Civilizações despóticas, torvamente amamentada com o leite amargo e venenoso da Angústia! A África arrebatada nos ciclones torvelinhantes das Impiedades supremas, das Blasfêmias absolutas, gemendo, rugindo, bramando no caos feroz, hórrido, das profundas selvas brutas, a sua formidável Dilaceração humana! A África laocoôntica, alma de trevas e de chamas, fecundada no Sol e na Noite, errantemente tempestuosa como a alma espiritualizada e tantálica da Rússia, gerada no Degredo e na Neve — pólo branco e pólo negro da Dor!
Artista?! Loucura! Loucura! Pode lá isso ser se tu vens dessa longínqua região desolada, lá do fundo exótico dessa África sugestiva, gemente, Criação dolorosa e sanguinolenta de Satãs rebelados, dessa flagelada África, grotesca e triste, melancólica, gênese assombrosa de gemidos, tetricamente fulminada pelo banzo mortal; dessa África dos Suplícios, sobre cuja cabeça nirvanizada pelo desprezo do mundo Deus arrojou toda a peste letal e tenebrosa das maldições eternas!
Não! Não! Não! Não transporás os pórticos milenários da vasta edificação do Mundo, porque atrás de ti e adiante de ti não sei quantas gerações foram acumulando, acumulando pedra sobre pedra, pedra sobre pedra, que para aí estás agora o verdadeiro emparedado de uma raça.
Se caminhares para a direita baterás e esbarrarás ansioso, aflito, numa parede horrendamente incomensurável de Egoísmos e Preconceitos! Se caminhares para a esquerda, outra parede, de Ciências e Críticas, mais alta do que a primeira, te mergulhará profundamente no espanto! Se caminhares para a frente, ainda nova parede, feita de Despeitos e Impotências, tremenda, de granito, broncamente se elevará ao alto! Se caminhares, enfim, para trás, ah! ainda, uma derradeira parede, fechando tudo, fechando tudo — horrível! — parede de Imbecilidade e Ignorância, te deixará num frio espasmo de terror absoluto...
E, mais pedras, mais pedras se sobreporão às pedras já acumuladas, mais pedras, mais pedras... Pedras destas odiosas, caricatas e fatigantes Civilizações e Sociedades... Mais pedras, mais pedras! E as estranhas paredes hão de subir, — longas, negras, terríficas! Hão de subir, subir, subir mudas, silenciosas, até às Estrelas, deixando-te para sempre perdidamente alucinado e emparedado dentro do teu Sonho...


*Fragmento da prosa poética o emparedado de Cruz e Souza. 

segunda-feira, 18 de maio de 2015

O coração apressado
Bate inspirado
Esse fogo surge
Como estrela cadente
E tão latente é
Que até mesmo escrever
Parece Impossível
As palavras saem trêmulas
Desajeitadas, soltas...

Hoje o beija flor surpreendeu
Com uma amiga apareceu
Um depois outro voavam amantes

Todas as manhãs tem sido
Chuvosas
Passam as horas o sol aparece
Com a lembrança dos nossos
Sorrisos

Essa onda de sorrir
Ainda vai nos abrir um dia quente
Essa obra do sorrir
Ainda vai contagiar toda a gente

Essa de cuidar quando chora
O amigo,
Vai nos levar a voar juntos
Passados os conflitos
Pousam a inspiração
E a Calmaria,
Eis essa doce travessia...


Rio de Janeiro, 14/05/2015
Edgar de C. Santana


Bom dia,
Foi o que disse
O beija flor ao cruzar
Ligeiro o meu olhar.

Beliscou as gotas
Deste meu bebedouro
Que de tanto lhe imaginar
Acalentou-lhe a sede com choro

De quem com tristeza
Viu o passado truncado passar
E hoje, um tanto acalmo
Se espalha ao vento
Como a chama espalhafatosa
Que traz a alegria
De soar o tom: Eu me lembro!

Bom dia!
Eu lhe devolvi
Já não mais doído como antes
Ciente que não esquecera
Eu também não o esqueceria
E assim, não pude
Negar-lhes esta poesia
Que o Beija Flor levou
Onde a imaginação queria
E eu não podia estar!

Com ele,
Não aprendo só a voar
Mas também a pousar

Seja um beijo na flor - uma gota,
Uma imaginação solta - Poesia -
Um brilho no olhar - Aprender
Como pousa.

Eu nunca vi...
E alguém já viu
Um beija flor pousar?

Edgar de C. Santana
13/05/2015




Proibido acesso ao telhado,
Diz uma placa...
Do alto, uma chamada guerra,
A cada tiro contasse o corpo
A cada dor, um rosto

Uma lagarta faz seu caminho
Tranquilamente pelo chão onde piso
O Beija flor não apareceu hoje
Nem o meu sorriso.

A placa que diz proibido
É a que autoriza
Contasse corpos e contasse
Vida!
Paradoxal a Polis Moradia
A metralhadora, real,
Dolorosa, sentida,
Enseja sua cantoria...
A guerra, essa sim é fingida!

O peito arde,
Grita em chamas,
O Beija Flor não vem,
Vou a ele com a memória
Dou-lhe um Riso
A agonia precisa ser vendida (ou vencida)

A lagarta faz seu caminho
Dia a dia um pouquinho
Rumo ao horizonte vasto
Chamado utopia
O beija flor não veio
Mas mandou sua amiga
A lagarta, entre
O eco tiroteio, Para me ajudar
Nesta poesia.

Edgar de C. Santana
Rio de Janeiro, 13/05/2015

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Esta manhã no Rio Comprido


Não é um dia qualquer,
Apesar de tão comum
A notícia do jornal
A Mentira escondida
Sobre o time de futebol derrotado

A alma de alguns meninos 
Voam por ai
E dái? E de quem foi a lágrima mesmo?

Ah! Se cada lágrima pudesse a esmo
Brotar uma flor em nossas consciências
Quão diversos seriam nossos jardins...

Ah! Se o chorasse das mães
Pudesse mudar o mundo,
E quem sabe o menino moribundo
Não tivesse de comer balas para 
Acalentar sua fome de consumo
De tudo, de profundo de mudo defunto!

No Rio Comprido
Dia de dia das mães
Tiros de uma guerra inventada
Preencheram a vida

O Rio se fez comprido
Tanta a lágrima
Que não fora vista
De expressões emocionadas
E presenciadas pelos entes queridos

Não preciso abrir os jornais esta manhã
E Provavelmente, por um bom tempo
Não os lerei novamente

Mais uma vez eles fizeram seu jogo,
Na ânsia de mostrar Assassinatos
Esqueceram de revelar outros fatos...


Rio de Janeiro, 11/05/2015
Edgar de C.Santana 






sexta-feira, 8 de maio de 2015

DE VER BEIJA FLOR


Edgar de C. Santana
08/05/2015

Enquanto fumo meu cigarro
Voa o Beija Flor.
Algo queima,

Penso na amiga 
Que longe chora ou sorri
E nos trabalhadores  aqui perto...

Trabalha dores que se fazem cortantes
Nos corações quentes
Trabalha flores desabrochadas
Com gotas apaixonadas

Pelo jardim, o beijo de uma flor
Embriaga o bico do passarinho
Que tão cheio de poesia beija flores pelo caminho

O cigarro ainda queima em minha mão,
Penso no meu vício... Devo parar?
De encanto em canto respondo não!
Esse meu vício de ver beija flor
Ainda me leva em algum lugar... 



quarta-feira, 6 de maio de 2015

CINCO POEMAS SOBRE UMA IMAGEM



Edgar de C. Santana
Rio de Janeiro, 04/05/2015

I

Lance-me um verso numa imagem tua
Uma poesia qualquer que tenha uma rosa
Onde na mão esquerda
Haja um desfalecido coração.

Um punhal que pode nos atingir
Numa esquina, a qualquer hora,
Cravado num coração
A margem da mão direita

Todos temos três corações?

Pai, Filho, Espírito Santo
Líquido, Sólido, Gasoso
Amar, Amante, Amado
Calor, Luz, Combustão

É o coração propriedade
Ou tem ele propriedades?
Afinal, o que é minha imagem
Na sua caixa de Pandora?

Há um coração pulsante, peito aberto
Deite sobre ele, sinta bater,
Beije, espalhe sua gota de lágrima
E com ela brindemos um sorriso, um verso,
E um canto nosso em sussurro desafinado.

Temos todos um tripé?

Fale-me da imagem que perpassa sem piedade
Dei-me uma poesia que somente eu entenda
Assim, do meu jeito, e que eu saiba a cada dia
Que eu sou única e sua...

Minha a poesia,
Dou-me o direito de não entendê-la,
E mesmo ainda amá-la
Sem rima alguma.

E na escuridão, sozinha,
Eu serei teu ponto de luz

Na escuridão deserta
Ainda que sozinha

Meu corpo será seu


II

Na mão direita
Um coração desfalecido,
O mórbido que não expressa
Expressa!
O que se pode fazer?
Largá-lo ou carregá-lo?

Os homens na calçada 
São donos de corações pulsantes!

O que sofrera?
O que sorrira?
Quem poderá saber
Além da memória de quem o conheceu?
Perguntas... Não mais que perguntas
Substituem o lamentar

Pois mesmo morto
Quem poderia saber se a morte é uma dádiva
Ou uma fatalidade?

Quem poderia lamentar ou não lamentar?

Morto, porém carregado,
Será nosso o hábito
De carregarmos o que está morto?

Um pouco mais a frente
Um poeta dissera:

"Mesmo triste,
Não carregamos um passado morto
Na memória só há espaço ao vivo
Seja em logro ou riste"


Um coração é sempre um coração
Não importa o que vivera,
Onde esteja
Um pulsar o segura...



III

Na mão esquerda
Um punhal cravado,
Nele um coração ainda vivo

O grito rompe
O susto, abrem-se
As portas do desespero
Corra, vá, salve-o
Cuide-o, faça algo, dê o seu
Jeito, coloque-o em sua mão

Mas em sua mão não seria matá-lo?

Calma... tenha calma,
Ele está vivo não está?

Ele está! Representa!
Eis o punhal e sua necessidade
De perfurar

Se escolhe o coração morrer
Então aperta-o para si
Se escolhe viver
Vagarosamente arde em dor e
O expulsa
Mas se a prefere a dor que sente
E o impacto comum que gera
Nele o preserva

A quem vê, cabe esperar 
Em alguma esperança que nos sobra

Por hora, deixa como está!
Vislumbre-o,  ele que chama

Nem sempre ao que se ama
Deve-se a tudo cuidar...


IV

O peito aberto espera ou clama?
Das certezas desta
Pobre mente poeta
Trago muitas dúvidas

O peito aberto
Carregado de Vivacidade
Revela o coração
Em seus compassos rápidos

Invada-me, ou
Deixe-me invadir
Expande retrai
Aberto ao mundo
Exposto está

É uma peça de Museu?

Peito aberto... Ha coração
Mas também leite!
E a fome, seja qual for
Uma vez mais, 
Numa noite qualquer,
Não importa,
Pode ser acalentada

E o coração
Tanto pode seguir
O caminho até a mão direita
Ou apenas o inverso...
De uma plenitude que espera

Não importa o caminho
Peito aberto ele erra
Está vivo e na vida
A tudo clama ou espera


"Veja-me, deslumbre-se
Sorria, a felicidade busco
Não escondo minhas amarguras
Não temo chorar no ombro desconhecido
Ele me abriu o abraço embriagado
E neste minuto fora Amigo"

Um peito aberto 
Expõe um coração maduro
A mão esquerda segura
Um coração e um punhal cravado
Na direita um moribundo

V


Cada um em seu momento unidos
Uma travessia correnteza, imagens,
Quase sonhos de sonhos dormidos
Eis aos poucos o pisar na margens

Com que chegas a mim, amiga,
E aprofunda-me com a tua brisa
Mesmo serena ou triste, abriga
A chama que espalha e me batiza

Do teu vislumbre Imaginário
Sobrou-me, ainda perdido,
Uma poesia do meu relicário

De versos comuns, de poema batido
Desses que um qualquer faz ou diz
E, quem sabe, trazer cor a sorrisos gris
















sábado, 2 de maio de 2015

SONETO A 25 DE ABRIL


Rio de Janeiro, 02/05/2015
Edgar de C. Santana


O que o  fogo cria
O vento espalha

Então nos fizemos conhecidos
Naquele dia
Um terremoto se fazia
E ao mundo ecoavam gritos
Sobre a forma de Beijos singelos em palavras

Ou desesperos de um terremoto
Que deveras acontecia
Sobre a forma Tristeza milhares de pessoas
Unidas separadas palavras fatos e atos...

As asas da borboleta bateram sobre nós
Ou fomos nós que as fizemos mover?

Um abalo sísmico em Nepal
Nos acordes do meu violão
Forjados ao olhar filosofia

Não eram apenas a real
Dissonância do nosso coração
Rua que alguma cratera se abria

Não um qualquer dia
Tão pouco um mero raiar de sol
Magnitudes de uma nova flor
De amizade surgida

Onde as passadas do passado caracol
Tem mistério profundo
Ao fato e ao interior
Uma areia ou uma rachadura no mundo

Eis enfim o soneto não menos vagabundo;


Não há um tratado de versificar a dor
Nos colocamos entre espelhos
Em reflexos distintos do nosso interior
No eu aos outros abrir e fechar cílios

Quando no solo uma rachadura se abre
Uma rosa em nossos seios desperta
Lagrimas, e outras seca a tons de sabre
Acorde o verso, um ao outro se aperta

No instante rompante se faz vivo
O que no fim, choramos ou rimos
De tristeza e alegrias, nossos sismos,

No dia que me tive cativo,
Onde cheio de calmarias e atritos
Abriram e fecharam novos abismos