sexta-feira, 4 de março de 2016

E por falar um pouco que eu sou...

É como se ela já não mais pudesse falar da sua dor, deixar um segredo e um peso em si... É como se ela não mais pudesse dizer, os olhares cansados seguiam as ordens dos ouvidos ao escutá-la... culpava-se por que? ela está vivendo não esta? culpada de que? ela esta presente não esta? queria vomitar palavras... mas estávamos todos fingindo alegria... eram tempos que vivíamos com ódio na verdade... mas precisávamos tanto de quadros bonitos, com uma natureza bela ao fundo e um copo de cerveja nas mãos
Era cada um na sua... E ela lá, madrugando... uma flor nas madrugadas quentes do Rio de Janeiro... Queria ver o museu, mas já não saia do quintal de casa,  não lia mas as cartas...as cartas... Àquelas antigas que ela gostava de ler... um dia enviou uma mensagem ao amigo, contou-lhe da confusa vida que ela via... Nem era assim, sua dor, mas só uma conversa casual mesmo, e também um sexo casual... só pra sentir uma companhia gostosa do outro... só pra sentir e pensar ou não sentir e não pensar... Ele, hum! Coitado, as artes e as ciências e todas as ocupações. e responsabilidades do dia a dia... Não pode respondê-la por que não a compreendia... não compreender, era isso que a machucava, que a irritava...nessas horas é preciso esta só, se afastar um pouco, ir ao cinema sozinha, conversar com um beija flor quem sabe? ver o mar por que não? mas ela andou um tempo se envolvendo demais com pessoas, e se esquecendo de como voar sozinha... voar sozinha, no começo é difícil se lembrar como faz... eu também era essa pessoa, e queria de novo o abraco dela... esqueci completamente, nessa coisa de dia a dia... de alegria tao passageira, esqueci desse detalhe nela, que para ter-lhe o seu acalento abraço, a sua meliflua voz e palavra... é preciso lhe dar doses de carinho... o abraço doce então se faz na busca para entender e cuidar dos que nos são caros... mas não era tempo de olharmos assim... hoje ela esta voando... e eu, com vontade de ser para ela, fico na espera, ou esperança de também ser com ela... No olhar dela, e para ela, neste minuto, posso dizer apenas que eu era...

Edgar Carsan