segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Deixo para os meus sonhos
Que voam onde quer que estejas
Acreditar na chama
Que possa ao acordar
Sair da cama
E nesta estrada ainda
Que faça lida
Encontrar-lhe em meus braços perdida

Ainda que me possam negar
E cantar e dizer
Que todo amor na vida
Fora perdida
Enquanto houver ainda
Teu olhar correndo sobre meu corpo
Haverá uma singela esperança
De dizer – Nos amamos

E pelo fim que não esperamos
E pela chegada noite soturna
Quando ainda teus seios
Possam a fome e a alma acalentar
Que não fiquem vazios
Nem a nossa liberdade
Nem a nossa sede de amar



Rio de Janeiro, 29/12/2014
Edgar de C. Santana

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Palas Desiludidas



I

Quem sabe eu cante
Seguindo a vida,
Sobre seu olhar dance
Em seus braços perdida

Quem sabe eu olhe
A lua e a veja bonita
E dela me encante
E lhes jogue a alma em cima

De sonhar e ser vivida
Não mais que uma cruzada
Deixar meu o amor e ser beijada

Mas volto pra casa recaída
No fundo a dor se fez morada
Amargurada em uma pétala desiludida
Rio de Janeiro, 24/12/2014

Maria Catarina

domingo, 14 de dezembro de 2014

SOL DE BRINQUEDOS



Estava a velha a fiar
Estava uma história a contar
Estava a ser Fotografada

Contive a quem cantava
Uma Lágrima pedinte
A Ser chorada
Numa manhã seguinte
No sono disfarçada
Para depois ser lançada
Em breves sorrisos
De uma tristeza superada

O que não nos faz
Na infância dos Desejos
Um sol sobre brinquedos?

Rio de Janeiro, 14/12/2014

Edgar de C. Santana

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

APENAS SIGA

Ela gritava dentro de si enquanto preenchia a face alheia de risos, enquanto se fazia piada. Ela praticamente morria. Cada um no seu mundo, enquanto o nosso mundo em chamas ardia sobre suas falas reclamonas “mas essas pessoas precisam tanto de alguém?” “Reclamam, mas diante do bicho se omitem” “Que medo é este do Bicho Papão” e uma voz lhes respondia na consciência:

 - Querem se manter ali onde estão
 - E por que não mudam – Ela se perguntava
 - Mudar não é fácil, preferem que “mudem por nós” e “nos mudem também”

 E depois silenciava, cada vez que se aprofundava no nós, se aprofundava em si, cada vez mais a posição dos outros lhe eram complexas, a quem amara agora lhe era contrário, e cada vez mais em sua solidão entrara.
Belo dia se deu ao trabalho de se unir aos corpos, vieram lhe beijos longos que ela amara num raio de segundo, e depois, em algum canto se sentira abandonada.
Mas por belos dias os corpos lhe eram bem vindos, alguns não demonstravam a mutilação dos seus corações nas presas, outros, lhe eram expressivos.
Há os corpos que ela se importara mais, e outros menos.
Era meio puta e santa e amava a isso tudo.
Mas belo dia, alguém lhe viera, e se combinara, num filho, e depois viu-se largada com um filho na barriga... seu coração conflitava entre auto mutilação e esperança.
“Estive completamente só por anos, carregando fardos pesados, e me vem um que de tão pesado me trata com leveza?”
E a voz lhe dizia:

 - Filho e trabalho
-  Meu filho é o melhor dos meus trabalhos
 - Sim, mas como vai sustenta-lo com toda essa energia?
 - Sou mulher! Mãe! E não será por isso que serei uma serva, uma escrava, não venderei a minha vida e a vida do meu filho numa bandeja

Ah! Mas o amor alheio somente na cabeça e nas palavras é meio amor, e pouco foi o amor que desabrochou em ato, em certos casos, valeram-lhe mais o canto dos ventos nas folhas das árvores conversando com seus sentidos a magnitude das ondas a preguiça das manhãs cinzas ou o canto de um pássaro lá longe, do que aquilo que estava na mente das pessoas
Derrubar uma vida sem sentido é difícil, uma carregada de um amor no útero e outro com os pés no chão se torna praticamente impossível “Não, um sentimento qualquer não abala”
A tal voz retornava:

 - Os sentimentos podem ser a coisa mais maravilhosa do mundo mas a pior delas
 - Isso é óbvio para que eu pense assim

“Mas meus dias passaram, vieram outros corpos, aprendi abandoná-los como aprendi a ser abandonada, não me importa, existe uma vida que cresceu e agora caminha, e seus olhinhos me fitam e são doces, oh! Como é maravilhosa a vida, e como tais olhinhos são amados, são férteis, guiam em parte os meus”
E ela deixou-se levar pelo fluxo do dia a dia, na luta contra a servidão imposta, que queriam lhe fazer engolir como uma condição natural da vida, fora traída por vezes nessa luta, surpreendida pelas omissões alheias, mas tudo valia a pena quando a noite encontrava sua menina crescida.
“Nem mesmo a violência dos furacões a energia cinética dos maremotos ou mesmo uma guerra maldita não nos pegam com tamanha surpresa e nos deixam um vazio vasto quando alguém que amamos se desfaz, pétala a pétala, sorvendo gota a gota de nossas lágrimas vorazes. Amar a si mesmo, amar a nós, não deixa de existir, mas muda!”
Então aquela menina que um dia carregara em seu útero, numa doença súbita fora levada há um ponto tão triste que se torna covardia um artista tentar descrever, nesta hora é melhor mudar o foco da câmera. E a voz lhe dizia:

 - A pedra cai sobre seus ombros
 - O que faço?
 - O que lhe liga aos outros?

“Uma vida qualquer, sem sentindo, moribunda a minha, que busca em si e nos outros um sentindo, ah! Quantas perdas, vale a pena toda uma guerra só para se ter o status de vencida? Vale a pena dizer que venceu diante de tantas tragédias sobre o cano de uma arma quente? E quando o absurdo chega a pontos extremos, o que fazer? Busquei lhes de volta, amor, perdoe, não me abandone mais.”

E uma voz tímida, quase inaudível, abalada e sem força, lhe dizia em forma de conceito consciência:

 - Apenas Siga!

Rio de Janeiro, 11/12/2014
Maria Catarina



quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Deixa pra lá

Sonhos de sonhadores
Sonhos de Crianças
Caixinhas de sonhos
Devoradores lobos insanos
Pessoas complicadas
Rotinas difíceis
Amor na cabeça
Amor nas palavras
Ato vazios

Caçados
Esquecidos
Calados
Desprezados

Abraço de mãe
Beijo de filho
Criança no colo
Água no copo
Sede insaciável

Denúncia
Meias verdades
Intolerância
Impaciência

Rios de fortuna
Rios de riso
Rios para onde vai?

Deixarei de escrever versos?

Deixarei de lado os poemas
Deixarei isso um dia
Um presente ao passado

Sonhei
Criança
Caixinhas

Deixarei os versos
Agora!
Rio de Janeiro, 10/12/2014
Edgar de C. Santana


Interessante quando encontrei um cartaz que dizia: procura-se sonhadores.


segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Guardarei sobre sigilo
Em formas de poesias
E escritos herméticos
A tarde que a dor fenece
O brilho do mais novo apogeu
Acabou
Começou
Assim foi a fonte
De uma prosa sem sentido
Que alguém sabe
O que hermético está
O mistério se encontra
Onde bate o seu peito
A chave é justamente sabermos
Onde bate no peito
Se é coração
Se é mente
Se é corpo
Ou todos
Falta pouco
E direi adeus
A minha imagem
No teu espelho refletido
Mas um pouco
E estaremos,
Como amantes e como Segredos
Livres disso tudo
Enfim!
Rio de Janeiro, 08/12/2014
Edgar de C. Santana
Esqueça a métrica
Eu desafinado
Sem rima réplica
Do inacabado


Outros beijos
De outros países
Aqui, almejos
Sonhos matizes

Se abrem a um mundo novo
Sem esperança
Deixa pra lá

Escrevo um outro
Um passo na dança
E outro no olhar

Um dia a dia amar

Na próxima
Tento um soneto
Quem sabe uma rima
Prometo!

Rio de Janeiro, 08/12/2014
Edgar de C.Santana




Surdos

Vai vai vai,
Não há vagas não há vagas não há vagas
Não precisa se esconder
Calma Calma Calma
A verdade nem machuca tanto assim
Você pode fazer coisas maravilhosas
E você vai querer que todo mundo saiba
Mas a noite, na solicitude
Por mais que você tente
A consciência pesa
Eu não sabia que você estava doente
Mas eu não vou curar seus males

Esconda as suas fotos
Nas gavetas do armário do coração amigo
Use meu tranquilizante
Superei seus crimes
Sem precisar de usar os joelhos
E crer numa Deidade evangélica espírita católica pagã

Esconda suas mentiras
Diga foda-se despreze
Tudo é muito simples

Mas acontece que alguma coisa
Formiga no estomago

Eu sei o que sou
Se me dói foda-se, esqueço e durmo
Mas uma hora volta
E não olharei mas em seus olhos
Esse vazio, eu não me arrependendo dele

Larguei uma vida na vida
Deixei-a solta
Desprendida,

Acreditei que pudesse fica tudo bem
Mas comigo
De verdade
Não dou a minima importância

Ele era um garoto sensível
Contou toda sua história
E disse-lhe tudo
Pena
Eu surda!

Rio de Janeiro, 08/12/2014
Edgar de C. Santana






sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Um amor a de chegar
E nos fazer levantar
Na manhã chuvosa
Revelando sua face gloriosa

Por hora, ficam lágrimas
Numa esperança ardente
De Auroras e pétalas
Para nosso peito cadente

Quem sabe
Quando a flor aparecer
Nos cale
Um pouco a dor
E nos faça rever

Que se o amor é
Universal como querem dizer,
Acima dos homens
Como almejamos
A ele não chegaremos
Porém
A nós ele virá

Por outro lado
Se das nossas relações ele cresce
Se tão importante assim ele é
Então veremos que não somos
Nada sem olhar alheio
E que Ele assim seja feito
De lágrimas
De cuidados
De risos
De pétalas

Rio de janeiro, 05/12/2014.

Edgar de C. Santana

domingo, 30 de novembro de 2014

Não quero os privilégios
Que queres para mim

Quero o sorriso de nossa face

Nego-lhes ser um objeto de exploração

Objeto de satisfação
Nossas faces!

Mastiguei seus sussurros

Calei meus versos
Calei minhas palavras
Calei-me o amor


Rio de Janeiro, 29/11/2014
Edgar de C. Santana

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Rimas
Com o que acontecia
Mas não tanto
Quanto a poesia
Que em ti nascia
Nasceu...
O meu riso não é falso
Uma singela ironia
Para uma alegria fingida
Para os que esconderam
A vista,
Se omitiram,
Na minha agonia.
O riso fingido
É apenas um riso
Para sua figura esquiva.
Não é somente a ti
Que dedico está poesia.
                            Rio de Janeiro,                           14/11/2014
                   Edgar de C. Santana

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Parte I

Despedaçaste-me como uma flor imunda
Calaste-me com tua arma suja
Devoraste-me com sua estupidez cruel
Repreenda-me quando quanto como
E onde quiseres

Deixaste-me largado humana
Deixaste-me moribundo frio
Deixaste-me fingir teu abrigo
Ou deixe-me apenas
Como sempre faz

Deixe nus que assim sobreviveremos
Não precisemos
De homens sedentos
Querendo ordem ao nosso caos

A força entrópica de minha morte
Está na tua voz minguante quando chama ordem

Essa força que fere e arranca
Onde até amor é violento

Rejeito tuas morais
Galgados nos milênios marcados por Moisés
Onde um cristo crucificado
Serve mais aos seus pastores
Do que ao um riso de amor libertado
Não me digam o triste ditado
Ordem e Progresso
Nem com atos militados
Forjados a indústria bélica

Choro mais pelo amor
De um filho negado
Ao rancor nas tuas línguas
Marcado


Não me volte ao passado
Nossos corações andam
Destruídos demais
Inclusive por uma historieta
Escrita em cinco atos

Nossos corações andam destruídos demais
E não reconstruiremos
Tampouco consertaremos
Ao novo busquemos!

O passado,
Cheio de repressões em ditatoriais
Guarda-se e marca-se de Deidades em Deidades
Em nenhuma delas fez deixar de sofrer
Corações despedaçados

Não me falem de eternidades
Ao que morreu certa vez voltou e disse:
  -Não há eternidade!
E depois morreu pela eternidade!
De eterna, já nos basta a morte!
Se dirá os que se dizem Majestades.

Eu estou vivo, eis o que me importa!
Não me traga teu conceito de humano bélico
Pois de sintético nossos braços
São alimentados
De transmissões de TV e ondas de rádio

Não me corrijam o português
Nem a rima
Como poesia: Sou fluxo...

Despedaça-me,
Sou uma pétala moribunda
Que grita e grita e grita
E não tem o peito acalentado
Que sonambulado cansado
Enriquece teu sorriso esboçado

Mas o teu sorriso, esboçado
Bate diante do meu, que luta
Não me perco
És tu que me perdes
Quando cansas deste amor
Violento por ti acostumado
Dele, nos libertemos!

Por que ao choro dos inocentes
O amor e a justiça são culpados
Quando chamados
Se mostram ausentes

Despedaça-me como fazes com flor
Larga-me como uma moribunda
Deixe-me dormir no sofá
Ou numa esquina longe da tua calçada
Onde podes me ver e saber que estou perto
E depois armado você...
Eu mal amado...

Disse-me  a Astrologia
Que eu era possessivo
Eis minha possessividade
Uma par de calçados furados!

Deixe-me longe,
Mas não terei filhos
Aos filhos alheios tenho caminhado
Assim eu faço

Tu tens filhos e não os ama, de fato
Enquanto lutamos por um mundo sustentado
De modo sustentável
Tu pensas numa herança que só a ti agrada
Ao teu filho
Aos herdeiros
Nem todo ouro poderá ser contado
De fato

Não preciso clamar piedade no templo Eldorado
Para saber que amanhã vem o amanhã
Não me interessam as chamas Kármicas

A mim, meus caros
Estarei só
Ciente
Conceito de Eldorado
Ao pobre inventado

A tristeza que me acompanha
Amanhã comigo acorda
Pelo dia comigo trabalha
E novamente me plagio
Abriu uma segunda vez
A caixa dos males Pandora
E viu-se nela vazio
Pois a esperança partiu mundo a fora

Amanhã continua a luta
A este vão execício de escrever poesia
Em nossos corações
O vazio um pouco preenchido
Não com esperança
Mas com labuta

Vislumbro sonhos
E ainda um amor e um filho
Sou apenas um trabalhador

Despedaçaste-me como uma flor
Esqueceste-me ao relento
Largaste-me de qualquer modo
Em qualquer esquina
Oh! Ausentes justiça e amor

Como Poesia: Sou fluxo...

Rio de Janeiro, 04/11/2014
Edgar de C. Santana






















segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Passadas Perdidas


Longas caminhadas
Ruas passam

Voz ecoa
Vira diário
Registro de amor
Amargura
Poesia

Vento gelado anuncia
Não entendo

Praças limpas
Distorcem das que vi dias atrás

Outras ruas
Outros passos perdidos
Eu inquieto
Para lá e para cá

Vou a algum lugar
Para onde voltar?

Não sei se para mim ou
Para um lar
Que não posso entrar

Sinto como se estivesse preso nas ruas
Olhando o lar pelos olhos da imaginação
Imaginando como está
O que já foi realizado

Na realização que me senti outrora
Mantenho-me na saudade
Vislumbrando o que virá

Estranha ansiedade de dormir e acordar

Perdida,
Poesia ainda mais perdida
Não deixa de ser assim
Poesia construída.

Edgar de C. Santana

15/07/2014

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Os encontros de um caracol aventureiro



Federico Garcia Lorca

Há doçura infantil
Na manhã quieta.
As árvores estendem
Seus braços para a terra.
Um vapor tiritante
Recobre as sementeiras,
E as aranhas de seda
- raias no cristal limpo
Do ar –
Pela alameda
Recita uma nascente
Entre as ervas seu canto.
E o caracol, pacífico
Burguês da vereda,
Ignorado e humilde,
A paisagem contempla.
A divina quietude
Da natureza
Lhe deu valor e fé.
E olvidando os pesares
De seu lar. Desejou
Ver o final da senda

Pôs-se andar e internou-se
Em um bosque de heras
E de urtigas. No meio
Havia duas rãs
Velhas a tomar sol,
Entediadas, enfermas.

“Esses cantos modernos
- murmurava uma delas –
São sem préstimo”
“Todos, amiga – lhe contesta
A outra rã, que se achava
Ferida e quase cega –
Quando eu era jovem eu cria
Que se ao fim deus ouvisse
Nosso canto, teria
Compaixão. Meu saber,
Pois já vivi eu muito,
Faz que nele não creia.
Eu já não canto mais...”

As duas rãs se queixam
Uma esmola pedindo a uma jovem rã
Que presumida passa
As ervas afastando

Ante o bosque sombrio
O caracol se aterra.
Quer gritar mas não pode.
As rãs dele se acercam.

“É uma mariposa?”
- Pergunta a quase cega –
“Tem um par de chifrinhos –
- A outra rã responde.  –
É o caracol. Vens.
Caracol, de outras terras?”

“Venho do meu lar e quero
Logo a ele regressar”
“És um bicho bem covarde
- Exclama a rã que é cega –
Não cantas nunca?” “Não canto”
- Diz o caracol. “Nem rezas?”
“Tampouco: nunca aprendi”
“E nem crês na vida eterna?”
“Que è isso?”
“É viver sempre
Dentro d’água mais serena,
Junto da terra florida
Que rico manjar fornece.”

Em menino a mim me disse
Minha pobre avó um dia
Que ao morrer certo iria
Ficar nas folhas mais tenras
Mais elevadas das árvores”

“Herege era tua avó
A verdade te dizemos
Nós. E nela hás de tu crer”
- Dizem as rãs furiosas.

“Por que quis vir ver a senda?
- geme o caracol- Sim, creio
Para sempre na vida eterna
Que vós me pregais...”

As rãs
Mui pensativas se afastam,
E o caracol, assustado,
Vai-se perdendo na mata

As duas rãs mendigas
Como esfinges se quedam.
Uma delas pergunta:
“Crês mesmo na vida eterna?”
“Eu não” – Responde mui triste
A rã ferida e que é cega.
“Por que dissemos, então
Ao caracol que ele cresse?”
“Porquê... eu não sei porquê
- Lhe respondeu a rã cega –
Fico cheia de emoção
Ao escutar a firmeza
Com que chamam os meus filhos
A Deus do fundo da acéquia...”

O pobre caracol
Volta atrás. Na senda agora
Um silêncio ondulatório
Vem manando da alameda.
Com um grupo de formigas
De cor rubra ele se encontra.
Vão-se muito alvoroçadas
Atrás de si arrastando
Outra formiga que tem
Quebradas suas antenas.
Mas o caracol exclama:

“formiguinhas, paciência.
Por que assim maltratais
Essa vossa companheira?
Contai-me que coisa fez.
Julgarei em consciência.
Conta-o tu, formiguinha.”

A formiga, meio morta,
Disse muito tristemente:
“É que as estrelas eu vi”.
“que são as estrelas?” – Dizem
As formigas inquietas.
E o caracol pergunta,
Pensativo: “As estrelas?”
“sim – repete a formiga –
Sim, eu vi na árvore mais alta
Que se encontra na alameda,
E vi milhares de olhos
Dentro das minhas trevas”.
O caracol pergunta:
“Mas que são as estrelas?”
“São luzes que levamos
Sobre nossa cabeça”
“Nós outras não as vemos”
- As formigas comentam.
E o caracol: “Minha vista
Só pode alcançar as ervas”

Mas as formigas exclamam,
Movendo suas antenas:
“Vamos matar-te; tu és
Preguiçosa e és perversa.
Tua lei é o trabalho.”

“É certo que vi as estrelas”
- Diz a formiga ferida.
E o caracol, sentencia:
“Deixai que ela se vá,
Cumpri vossas tarefas.
É possível que em breve
Sem força a morrer venha.”

Pelo ar duçoroso
Uma abelha cruzou.
Na agonia, a formiga
Aspira a tarde imensa,
E diz: “É a que vem
Levar-me a uma estrela.”

As demais formiguinhas
Fogem ao vê-la morta

O caracol suspira
E aturdido se afasta
Cheio de confusão
Pelo eterno. “A senda
Não tem fim – ele exclama –
Talvez até as estrelas
Se chegue por aqui.
Mas minha grã moleza
Não deixará que chegue
Não pensemos mais nelas.”

Tudo brumoso estava
De sol débil e névoa.
Longínquos campanários
Chamam gente á igreja,
E o caracol, pacífico
Burguês da vereda,
Aturdido e inquieto,

A paisagem contempla

Posse do se doa.

Mas não posso impedir a poesia
De florescer

Broto
Na dificuldade
Rasga a terra
Faz-se vivo

Folhas, frutos, flores
Sei de suas dificuldades

Como dói nascer

Quanto choro e quando grito
Da mãe é preciso
Ao rasgar a criança o útero
Para que case com o choro
Acalentado do primeiro abraço
Num laço de um peito de pai

Como dói
No coração humano
Deixar nascer o amor
E humanamente
Deixar-se amar

Deixem-se crescer
Corações humanos
Em que cada um
Um útero cheio
De amor a nascer

Nos seus olhos
Viver numa lágrima

Raízes na profundidade
Rasgando a terra
Necessidade de amarmos

Tristezas humanas
São os corações cheios de desprezo
Deixa-se matar a raiz
E de pouco em pouco o amar
Que lhe recai

Despreza a si próprio
Quando se despreza o que lhe ama

Um pouco da nossa infelicidade
Suscita pensando
Que possuímos o amor
Impossível é
Ter posse do que se doa.


Rio de Janeiro, 29/09/2014.

Edgar de C. Santana

domingo, 28 de setembro de 2014

Salve sua manhã
Criaremos nossos filhos 
Leremos livros dos colegas  
Do mundo 
Portanto amor,
Não precisa chorar
Eu estou tão perto
Mesmo que suas mãos
E seus medos não possam
Me tocar
Eu seguro em seu coração
E junto a ele posso deitar
Vocês, não me deixem ir
O mundo não foi feito
Para uma vida sozinha
Falo-me
Tranco-me
Grite-me
Onde eu não possa entrar 
Paciência
Uma pequena paciência
Diga a uma mulher a sua dor 
Ou deixe-se ir
Relembro que meus cachos 
São afinados com os dele
Os meus pequeninos
Como a sua tenra idade 
Natural e romântica
Como eu vejo.
Ouvimos o som do mundo
Em nossa face
Por um longo tempo
Mas Deus nunca escureceu
E esqueceu o nosso caminho
E se queres alguma libertação 
Então grite seu ódio
Na Central do Brasil
Onde crianças choram
Sua fome e seu furto
Nas grades do lado de fora
Do poder Central
Realmente
A lua me chama
E não posso aqui dizer
No amai-vos uns aos outros 
Que a Alegria amo.
Só quem leu sabe
Quem tem ouvidos ouça
Quem tem olhos leia
Ou então,
Coma sua batata frita
Tome sua pinga
Viva de forma vadia
Uma vida vazia.
Reproduzindo escolhas
Não escolhidas
Viver é um direito de todos, 
Enfim.

Rio de Janeiro, 28/09/2014
Edgar de . Santana

sábado, 23 de agosto de 2014

O mar a minha frente
O deserto às minhas costas
Meu corpo no chão
Aguardando a passagem.
Chamas em mim
E ao meu redor
Entre o fim e a esperança
Permaneceu a última
Não há dúvidas
Nem incertezas
Talvez, um leve receio
Caso a luz se apague.
Uma árvore isolada no Monte
Para que lado pende
Enquanto vislumbras o céu?
Rio de Janeiro, 27/07/2014
Edgar de C. Santana
Nem sempre, quando estamos no deserto, e vemos o mar a nossa frente, devemos mergulhá-lo e achar que sairemos vivos, quando na verdade precisamos apenas de sentar e vislumbrá-lo! Ontem, o absurdo surgiu diante dos meus pés. E toda injustiça humana se abriu, e qualquer coisa dita sobre amizade se desfez, e qualquer coisa que havia sido dita pelos humanos próximos não passaram de mentiras.
Hoje, a dor passa, hoje eles têm os pés fortalecidos, e nenhum humano do norte veio dizer-lhes, tu é foda! O norte estava dentro dele, e por ELE qualquer dor da saudade fora superada, restando lhe apenas saudades. E qualquer ódio de amar fora destruído de amar, restando-lhe o amar. Desculpe pobre filósofo, Mas só pude continuar, quando neguei a tua verdade, quando neguei a vida como um fim nela mesma. Tu pobre filósofo, desconhecestes o que é estar só quando lhes houveram mentores. Tu, verdadeiramente, não soubestes o que é ser solidão apesar, uma pena, certamente seria agraciado com todo um conhecimento maravilhoso de ser vivido. Mas obrigado pelo mito questionado, ele me foi recuperado. Obrigado, tu e ELE, pela minha intolerância despedaçada!



Rio de Janeiro, 23/08/2014
Edgar de C.Santana
Farofa
Purê de batatas
Geleia de morango
Lembrança se faz
Na mistura pra barriga
Fome de amar
Sede saciada
Em extrato de erva mate
Na mesma mistura
No cheiro de café
Após longa subida
Pão comprado
Frango Assado
Na descida da Ladeira
Misturado na salada preparada
Pudim de Leite
Torta de Limão
Torta Salgada
Mulher Apaixonada
Poesia dos dias
Que nós temos encontrado
Vida simples, com mistérios,
Porém: Simples!
Que desejo
O mar não abre
O deserto não acaba
Continua o amar
Ontem, antes do jantar
Um casal de borboletas reapareceu
Vida pacata
Ficar em casa
O aprender a andar
De bicicleta das crianças
Uma volta
Do passado ao futuro
Obrigado pelo presente
Que é apenas uma chance
A cada novo instante
O amor também se manifesta nestas coisas
Ele se encontra
Onde gostaríamos de estar
Vamos jantar?

Rio de Janeiro, 23/08/2014
Edgar de C. Santana 

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Ruas por aí
Céus que nelas se unem
Nuvens carregadas que trazem chuva
E trazem paz.

Não pensei em música
Tão pouco numa poesia

De cabeça baixa olhei para o céu,
E senti uma luz que aquecia,
E mesmo ainda vi
Sua imensidão

Enquanto o brilho dos olhos
Sob forma de alegrias distintas caíam

"Tudo passa tudo fica tudo permanece"
E invariavelmente independe de nós.

E pude contemplar ainda
Que as vezes a dor passa
Mas o amor permanece.

Rio de Janeiro, 23/07/2014
Edgar de C. Santana

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Avanços
Acabamos
Abraçados
Amamos
Amamos andamos
Abismos avise-nos
Avisem avistam A vista visita
Sobrados de mim
Pequenos fatos ferros
Fetos sonhos não voltam
Foram se
Foice para algum lado
Obrigado
Não há parado
Só os amargos Amardos e armados.


Rio de Janeiro. 25/06/2014
Edgar de C. Santana

CONSERTANDO


Eu fazia o que meu líder mandava, não tinha muito que questionar, sequer sabia o que deveria ou não ser questionado. E eu com o bando liderado, em pouco tempo “tocávamos o terror”. Ele mandava tudo, primeiro eu vi, e de ver em ver agente se acostuma até fazer com que os outros também vejam o que eu fazia.
Na época não era muita coisa, pegamos um moleque que roubava gás, depois de uns tapas bem dados na cara o deixamos ir. E não é que o moleque teimou em fazer de novo! Dessa vez, sem pena, foi a primeira vez que vi um sujeito levar uns bons tiros na cara “esse não rouba mais”, era o que diziam.
E aí as coisas começaram a valer, qualquer motivo era um desculpa para fazermos a justiça que quiséssemos; uma justiça que só servia para punir e uma lei que nos garantisse a nossa liberdade.
Não tinha muita gente que era contra, nem estado nem cidadão, uns gozavam com a nossa ordem, nosso jeito de fazer as coisas, e outros, quando retrucavam, agente enchia de bala na cara, quando não pegava o sujeito, arranjava logo um culpado, negócio feito.
Nosso líder só mandava. Nosso líder não o era por ter sido questionado, pelo contrário, nosso líder o era por não ser questionado. Uns tinham medo de questioná-lo, um passa a frente da ignorância, quem tem medo não ignora.
Cada um abre sua mente de um jeito complexo e meio difícil de entender. Eu conheci certa vez um cara que de tanto ler poesias num poste sentiu que alguma coisa estava errada consigo próprio, outro observando artistas na rua; Outro que belo dia recebeu uma flor de seu filho, enfim, uma conversa que tivera com alguém num momento mais sensível, essas coisas.
Comigo aconteceu quando, depois de muitas vítimas, um corpo me chamou atenção, o corpo caiu no chão como quem implorava não ser morto, e enquanto todos seguiam eu chorei abraçado àquele corpo, “viva, por favor” eu repetia como se essas palavras objetivassem a dor que doía em mim.
Depois de um tempo agarrado e chorando, chegaram pessoas falando de acalento, de Deus, de vida e nuvens que passam, eu saí dali, eu corri disso tudo, vivi em minha tristeza, dia a dia, completamente só.
Pensei em descarregar meu revólver contra mim, e me perguntei, “por quê contra os outros é mas fácil?” “Será que sou o único” Depois eu soube que não, como vocês leram conheci outras histórias, que me lembrava muito do que minha coroa dizia “Jô meu filho, você não está sozinho”
Em parte passei a ser meu próprio líder, ainda com minhas dificuldades, principalmente quando encontro com a herança dos meus atos em outras pessoas, meus atos se repetindo mesmo tendo vivido com a vergonha o com a perda de uma pessoa querida.  Meus atos chegam até eles, como um dia houvera chegado em mim.

Não sei o que farei depois, agora estou aprendendo a me consertar.

Rio de Janeiro, 25/06/2014.
Edgar de C. Santana



terça-feira, 24 de junho de 2014

As vezes penso que são os cabelos!

As vezes penso que são os seus cabelos. As vezes penso que os cabelos de uma mulher são chaves para seus mistérios. Cada corte um momento na estrada, ou uma longa estrada com seus momentos vastos. Quando teus cabelos eram curtos, era uma outra história, uma outra paixão e os sentimentos que nos embriagam e nos deixam em conversa na madruga, nossos fluxos sentimentais venciam facilmente o sono.
De repente deixa-se o cabelo crescer, pressentindo uma mudança gradual, misturado com a preguiça de levantar no dia seguinte. Mas como se não houvesse um nada anteriormente, uma bomba explode, o passado longínquo, sempre presente em nossas vidas vem a tona, grita, anseia, e quando podemos, numa atitude sincera e de confiança, o recitamos com choro numa tarde qualquer, um choro que pesa, que só pode ser dito numa tarde, um choro que não se encerra na madrugada.
Nenhuma mulher se resume nos seus cabelos, nem na falta dos mesmos, não podemos resumir toda a história de vida em representações, e nenhuma certeza tiramos das representações... mas na maioria das vezes não precisamos de certezas. mas de representações!
E quantas representações sobrevém dos cabelos da mulher! há beleza em todos os cortes, há beleza na ausência de cabelos, há beleza na sua simplicidade e na sua vaidade! Mas os cortes se abrem novamente, cortes do passado... os cabelos de mulher!

Rio de Janeiro, 24/06/2014
Edgar de C. Santana

sábado, 21 de junho de 2014

O amor não arromba portas
Ele entra quando
Elas estão Abertas
Espero pelo amor,
Não pelo Amor que está em mim
Mas pelo que pode ser compartilhado.
Todo amor precisa
De ser posto pra fora
Em demasia
Anseia por liberdade,
E as vezes, quando reprimido,
Vira amargura.

Rio de Janeiro, 22/06/2014
Edgar de C. Santana

Cabeça na grade

Na cela ele anda,
Bate com a cabeça na grade
Louco pela liberdade.
Ele sabe
Que com os outros
Pode se pensar livre

Rio de Janeiro, 22/06/2014
Edgar de C. Santana
Podemos andar, amar e acreditar. Podemos ser loucos, mas não podemos ser sozinho. A liberdade é alcançada no nosso relacionamento com o outro. O egocêntrico não esta liberto, mas preso a sua condição de ser somente em si.

Rio de Janeiro, 22/06/2014
Edgar de C. Santana

Professor



Na labuta na peleja
Se vamos às ruas
Vamos ensinar lutas

Se vamos a escola
Vamos levar esperanças
Como alguns
Não as tiveram quando crianças

Ossos do ofício meu irmão

Tem mais gente querendo
Ser contraventor que professor
Encher o bolso
E gastar em baixo dos braços do redentor

Pelas ilusões que construímos no dia a dia

Aquele que fora chamado de louco
Quando escolhera o abandonado espaço escolar
Para criar sonhos
Ou fazê-los realizar
Hoje são corpos arrastados pelo asfalto
Pelas mentiras dos negócios
E das aulas mercadorias!
Rio de Janeiro, 21/06/2012.
Edgar de C. Santana