PARA SE CHEGAR A PLENA ALEGRIA
Para se chegar
a Plena Alegria é preciso ter olhos cheios de cachoeira, elevar o cheiro
tranquilo da noite até a lua e deixa-la mostrar-se nua, despida depois que o
dia vai embora e vem a noite trazer-lhe o palco.
Olhos cheios de
cachoeira de emoção para olhar o horizonte, ou um lugar longínquo para seguir
em direção, talvez nunca chegue... talvez o horizonte não tenha um fim, será a
caminhada o nosso fim?
CAMINHADA
Carlota parecia
dar passos de formiga, eram tão lentos que pareciam que nunca chegariam aonde
queria chegar: Na lua, no sol, no céu azul, nas estrelas, no horizonte... sim!
No horizonte, e o mais perto possível, só para ver como era aquele abismo
temido!
Não ia sozinha,
tinham uns que iam tão rápido que ela só sentia o vento que passava perto; outros
que Carlota realmente achava que viveriam uma vida inteira e não dariam um
passo se quer, mesmo que em movimento.
Curiosos eram
os que estavam parados na jornada, pareciam uma estátua! Carlota até dizia “vamos”,
e eles pareciam não saber o que responder, continuavam em seu silêncio
profundo... tinham uns que parados diziam com medo, então era a hora de evolver-lhes os braços e dar os passos que
levam dias inteiros para serem dados, e quando Carlota ficava ansiosa por ter dado
meio passo depois de dias, lembrava daqueles que passavam deixando um rastro de
vento tão forte, como um furacão, que acaba nos levando junto, a tal ponto, que
as vezes era necessário usar de muito jeito e muita dificuldade para prender os
pés no chão (e os machucava as vezes por isso).
E depois de
meio passo dado, esses que estavam parados diziam “tudo bem, deixe-me ir,
obrigado por ter me feito movimentar, vamos nos encontrar logo ali na frente”.
CHEGADA
Para chegar a
Plena Alegria é preciso movimentar-se, vivenciar a caminhada, a comunidade e os
indivíduos que aparecem, e esse movimento nos presenteia com os amigos, ou
filhos... Carlota não veria o abismo depois do horizonte, e só sentiria o calor
da lua através de sua emoção, seus olhos em cachoeira... e a plena alegria?
Essa não nos encontra ali na frente, é conosco que ela caminha... “Não vai me
abraçar na hora da chegada, mas me abraça enquanto caminho”
Rio de Janeiro, 24 de junho de 2016
Edgar Carsan
"Do Livro: Mil contos que escreverei um dia"