segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

BANHO NO QUINTAL


Gosto de vê-la tomando banho. A tarde de hoje é quente, ela suava e agonizava na falta d’água, o que me deixa profundamente irritado, não com ela, mas com tudo que se passa no mundo e que provocava a sede de nossos corpos.

 - Fazer o que? Não tem água, logo ela chega - digo

 - Jesus, não iria aguentar morar no Nordeste.

 - Lá eles lutam...

Não sei se aguentaríamos, a nossa luta aqui é outra, mais enfim a água voltou. Ela ficou nua e vi os desenhos perfeitos, sua baixa estatura, seus seios miúdos, lindos, sua magreza e gordura num mesmo corpo; Foi rápido, mas a visão da mulher nua na cabeça permanece mais do que o curto tempo de colocar o biquíni, principalmente quando em minha adolescência era praticamente impossível ver a mulher nua, ser parte de sua nudez, afinal, não fui bonito, não tive uma boa conversa, sempre essencialmente tímido, com uma poesia tímida sonhando envolver o corpo nu da mulher.

À água caía como um jato, e agora, água é poesia, é rara, um conceito nevrálgico entre Religião, Filosofia e Ciência. Uma invenção da Natureza, de Deus e dos Homens; Tão forte quanto a presença da água é sua ausência, e tão forte é a necessidade de nos acalentarmos nela. Que sede é esta que está além dos nossos lábios? Essa ausência que nos deixa sedentos por uma presença cada vez menos abundante, que cada vez mais a desperdiçamos, enquanto lavamos nossas mãos sujas, que desperdiçamos nas gotas que saem de nossos corpos, e a visualizamos na ausência de lágrimas dos nossos olhos? Então é assim? Enquanto mais abundante é o choro, maior é a sua ausência por lágrimas.

 - Água, te amo! – Ela diz, e abre minha lata de sardinha, eu lhe dou um sorriso, ela retribui, movimenta os lábios para frente, faz um bico e depois os retraí, novamente para um sorriso – Te amo, seu lindo – Te amo, eu penso, pouco me importando se sei o que é ou não o amor; Penso que há um sentido de amor em nossa relação, e outras imagens dela vem na cabeça, um sorriso, uma expressão, um piscar dos olhos, um mover do rosto para o lado, um olhar perdido num ponto fixo. Eu a amo. Quero um dia aprender a desenhar, e desenhá-la, com um corpo ainda mais envelhecido, porém lindo, suas pernas magras cheias de pelos, de varizes; sua cicatriz de mãe, você é perfeita, penso – Que foi? O que você está me olhando aí?

 - Estou te olhando – Lhe dou um sorriso, ela me devolve, hoje em dia há tantos trans. e metas e Inter que eu penso que meu olhar agora é isso, tão naturalista, romântico e barroco e sei lá mais o que, afinal, tantas relações, esta rolha de vinho que chamo de minha cabeça, meus olhos, o corpo dela, água que agora, nestes passos, são mente e carne.

 - Você não vêm? Como você consegue ficar aí neste calor? – Ela me chama, sua expressão maliciosa me convida, tenho uma paixão demasiada, uma vontade de fazer um filho, mais gosto desta sensação paradoxal, esta curta distância, vontade de ir e não ir... travar um pouco o que quer se desprender.

 - Eu estou aí, eu te vejo, eu me vislumbro de ti, onde estou lhe abraço e me abraça, esse mundo de nós onde estamos livres, essa nossa igualdade num universo desigual – ela ri e o sorriso me reponde um mundo de relações presentes, minha irritabilidade com o que se passa no mundo lá fora, a ausência de água, que dinâmica lhe escore pelo corpo;  Este quintal, as plantas do jardim, o sol quente sobre nós, o corpo dela, minha mente, vida, tantas relações possíveis, dinâmicas e estáticas... gosto desta sensação estática, percebendo a água dinâmica; Seu pequeno vem e nos diz:

 - Sou um herói.

 - Um herói aquático – ela enche um pote d’água e taca nele, o menino corre pelo quintal, e depois volta: “iáaaaaaaaa” eles riem um riso, que diante do sol da vida é uma luta ecoando livremente.

 - Vem, tira essa roupa – e ele pula todo pelado e alegre, é uma cachoeira que cai de chuveiro, é banho de chuva neste domingo de verão, é uma praia ao qual ele é um herói. A mãe lhe molha a cabeça, ele sabe de um mundo diferente que é o carinho, sabe da cachoeira dos olhos que se guarda nas retinas da mãe, ao vê-lo assim, todo contente, em seus pulos; Sim, o pequeno um herói.

 - Vem também - ele me diz.

 - Já vou.

 - Então vem logo, olha mamãe, eu sou um tubarão de quatro patas – Todos rimos.

 - Mais não existem tubarões de quatro patas.

 - É de mentirinha – E rimos novamente, este menino é um herói, de fato. Lutamos pelo passado, pelo agora, pelo manhã; Eu, sua mãe, ele, desde quando fora dada sua existência, seus primeiros passos no útero, a luta de sua mãe para desprende-lo de sua carne, e toda a luta que travei até encontra-los, toda a luta que tivemos antes de nos encontrarmos.

Desde pequeno conhecendo e identificando o caminho da luta, desde pequeno reconhecendo a ausência, e por ela sendo um herói entre nós, e nós todos somos heróis, e somos também anti-heróis, e as ausências são fortes em nossas vidas, ausência do filho, do pai, da mãe. Buscamos presenças que nos sejam abundantes nas ausências que permeiam ás cidades, ás paredes de vidro dos escritórios, nos muros que que cerceiam nossas classes, nossas atitudes empreendedoras e desumanas, preconceituosas. Lutamos por não encontrá-las, por se mostrarem raras.

 - Olha filho, uma rosa.

 - Ih, que legal.

 - Viu amor, nasceu uma rosa em nosso quintal – Ela me diz.

 - Vamos dar para a vovó mamãe?

 - Ela nasceu, ela já é um presente para sua avó – Ele corre chamando Vovó, Vovó, ela olha o olha pela janela, rindo com um telefone no ouvido:

  - Que foi filho?

 - Nasceu uma rosa, um presente para você – Ela gargalha e depois diz para a pessoa do outro lado da linha:

 - É o meu neto lindo -  e depois volta para o neto – é meu filho, vocês só estão aí no chuveiro né?

  - Está muito calor, meu Deus – Diz sua filha

 - É hoje está mesmo!

 - Mamãe esta flor é bonita igual a você – Todos riem, a avó volta para dentro de casa e prossegue com sua conversa, a mãe faz os carinhos e brinca com o menino, aproveita para ensaboá-lo, logo irá para o casa do pai, serão outros heróis, novas lutas.

O tempo passa rápido. O tempo que já não é acompanhado pelo relógio, porém, quero manter esta sensação estática; A mãe já ensaboa o menino, temos que poupar água, temos ainda que arrumar as coisas de casa; está terminando, quero que está cena dure um pouco mais.

O tempo em nós, no nosso dia a dia é dinâmico. A água o atravessa, os cabelos ensaboados, meu olhar enfim, nós o atravessamos. Sinto-me melancólico, luto na minha caixa de pandora para um pouco mais de permanência, preciso agir, está acabando.

Me lanço para debaixo do chuveiro, rio alto e sonorizo como uma criança, tão brusco e infantil, eles alegremente se assustam, brincam e se divertem; Depois esbravejo como um monstro, pego moleque no colo, sei que assim, este contexto permanece um pouco mais; E depois, na memória, essa onda que dizem nunca ser a mesma, retorna. O que apreendo e sinto destes momentos retornam, e em outras vezes outros sentires a mente coloca.

E ali ficamos a brincar, naquele quintal de concreto, na cachoeira de jardins, na chuva de sol... ali permanecemos...

 

Edgar de C. Santana

sábado, 28 de dezembro de 2013

Uma poesia que se brota inútil

Cheios de erros,
Tão comuns
Pelo relapso  tempo,
Pelo descuido da atenção

É assim,
Uma poesia que se brota inútil,

De erros em erros refreados,
Em sonhos inúteis que sonhei

A falta de ouvidos, aos erros da escrita,
Ás inúteis ações de atender
Com amor e carinho os senhores no seu caminho

E perceber que é em vão,
Lutar não é em vão,

E eu acostumado a ouvir
Que nos falta ceder,
Penso que ceder é inútil,
Não Importa.

E deixo meus erros em minha poesia
Pela falta de atenção?
Pelo em vão acertar?
Pela falta de conhecimento?

E nas indas e vindas dos sonhos
quais vãos preciso preencher?

Edgar de C. Santana

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

POLIS CASA


Toda força nossa

Para construirmos tua casa,

Concreto, suor argamassa

E seu deitar

Numa cama de amor e pétalas


Todo dia vejo meu pai vivo,

E penso, se não colocássemos àquela

"Sinta", como seria?


Bem no meio da sua cama

Deixar um mini buraco no teto

E gota a gota escorrer

Pela sua face um pouco

Da água amarga dos meus olhos.


Todo dia é dia de luta,

Na labuta encho a barriga

E vejo meu pai


E toda força que gastamos dia a dia

Para construir a casa de teu pai

Deixamos dia a dia

De construir a polis moradia....


Que casa pode ser tão bela

E que jardins podem ser tão lindos

Quando a sociedade,

Nossa segunda casa,

Está com vigas

Enferrujadas e Corrompidas?



Todas as nossas casas com muros altos

Para nos proteger de nós mesmos


Todas as casas com muros altos,


E no fim... algum filho vai

Vai chorar pela presença de um pai.



Edgar de C. Santana

SILÊNCIO GRITO


As vezes o silêncio se faz tão auditivo quanto o grito, o escandaliza e atinge nossos falsos sorrisos e nos revela a cara mal-humorada e bem morada em nossa alma. Há horas que só o grito é possível.

O grito e o silêncio são como uma moeda, de modo inverso, porém diretamente relacionados, o grito cuida do silêncio, o envolve numa cúpula, e quando há uma bomba nuclear implodida, o silêncio o rompe: “Basta grito” ele diz.

O silêncio ecoa, é percebido, ele está e cerca o grito, que murmura entre os muros do silêncio, num sentindo crescente até romper com o silêncio e ganhar um corpo, rasgando o muro que o envolvia deixando se ver por todos os olhos ao redor. O corpo diz qualquer coisa que soe como uma explicação, e se escuta incompreendido.

Junto ao corpo a mente se isola em um canto e assiste a cena do “importa às minhas vontades” “nada importa”. Silêncio e Grito, quais suas origens? Quando são origens, quais as suas causas? Quais os seus sentidos?

Como posso ser tão solitário e querer tanto a relação com outro, a tal ponto que um e outro se dependem? Silêncio e grito oscilam em conflito. Quem viveu e atuou em solidão, compreende a importância da sua relação com o outro, da sociedade e dos silêncios e gritos que delas ecoam, e que sobre elas se fazem ecoar?

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

A força da ausência reside na nossa falta de resistência, de luta. Esta grande montanha chamada polis esta aí, e todos temos que lutar para reduzir a ausência que nela há.  Assim toda forma de vida é fundamental, deve ser preservada, refletindo sobre a importância que na polis possui.
O individualismo não pode se estender ao nós. O fato de em parte, eu rejeitar às multidões não significa necessariamente que eu seja individualista; Eu rejeito às multidões individualistas. e por rejeitá-las eu luto contra o individualismo.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

HISTÓRIA ARTE

Toda a história tem uma arte
E arte uma história
História de criança
Uma criança artista
E assim,
Num dia qualquer,
Eles se encontram e se 
beijam
Mostrando
Nossas faces
E a beleza Que nelas há
Não importa
Se vem carregada de prantos
Ou em passos de paixões vastas
Elas chegam
E nos trazem em suas fotografias
Um universo
De um encontro
Todas as realidades possíveis
Quem quiser
Que veja
Com toda a simplicidade de amor possível
Que vejam
A história e a arte
Num amor transcendental.


sábado, 14 de dezembro de 2013

O GIGANTE EGOÍSTA









Eu, Leticia e Victor, Assistimos a montagem do Gigante Egoísta, pela Artesanal Cia de Teatro, onde percebemos a tristeza com que individualismo nos cerceia, e do egoísmo que o conto de Oscar Wilde critica; bem como necessidade que temos de nos envolver com os outros, e de maneiras às vezes simples, como por exemplo, brincar com crianças no jardim.
É interessante observarmos a maneira como o conto foi materializado no palco: a encenação da passagem das estações, a atuação dos fenômenos da natureza, a nossa passagem pelo tempo, e como podemos intervir para que a felicidade se estabeleça ao nosso redor.
A peça está em cartaz até 29 de Dezembro.
Foto de Leticia Frederico

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013


“Os risos que ecoam a noite podem ser para o vento, para as estrelas, ou até mesmo para outros sem presença física, mas não são meus; E na manhã seguinte serão gastos, cansados e amargos quando chegarem a mim... Ao menos, e o que já  é muito, uma nova manhã se inicia, uma outra manhã de luta.”
Edgar de C. Santana

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Polis Perdido


Pego ônibus,


Vivo a distância,


Percebo ausências.


Lembro de ser esquecido,


E pouca me importa a dor


Que sinto,


Pouco importa a dor que faço


Perco poesia


Deixo-a sem nome,


Olhos escondem


Pedaços,




Vozes,


Um pouco cansado de ouvi-las


E ver a magnitude da apatia


Alheia,


Como uma força escondida


Entre a face da omissão


E a singela necessidade de ser


O ser amado.




Casa, construção


Passa rápido


Tanto quanto a demolição


Novas vigas novas cintas


E paisagem bela muda


Do novo ao comum




Lutamos sim,


Uma luta contra nossa apatia


Uma luta contra nossa mentira


De deixar perder


Uma poesia lida


De deixar ceder


A voz omissa,


De quer calar


A força dolorosa


Nas cordas vocais




Por pra fora


A vontade de morrer


Para ser mais vivo,


Amargura reter


Esdrúxulo ser


Poeta ao qual me privo




Me privar da liberdade de poder


Reter palavras


Em versos subtendidos


Ser um Deus e um animal


Nesta polis perdido.






Edgar C. Santana

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

ACORDA SOL

Pedi calei
Falei e Ficamos
A ver ouvir dizer
História que não acontecia

O som a metáfora
O esdrúxulo o poema
Num laço só,
Vácuo.

Sentido
Mas, dureza
Forjada

Dureza escolhida
Dúvida conflito
Volto e recito

Sussurro grita
Escuta
E perde o sentido
Solta o mar e afoga

O sol que vem
E vai embora
A noite dorme nu o sonho
Dorme a noite no sono

Que acorda no sol
Que chega e vamos embora

Pelo gigante de pedra
Esperança do tamanho de prédios

Que cozinham nosso cérebro
Na ausência de tempo.

Edgar de C. Santana

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Fica Luta

Corro feito um louco,
Chamo por mãe e pai,
Uma voz
Responde quase inaudível

No meio da rua,
Quase invisível
Não há quase fuga

Ha luta!

Corremos
Aos braços agora,
O raciocínio vai embora!

Fica luta
Para, Raciona,
Não esqueça

Vamos a Luta.

Corro para teus braços
Agora!