domingo, 7 de junho de 2015

É SÓ UM CISCO

Muitos já disseram isso, é como se levantasse o tapete, como se descobrisse algo, como se o mundo se abrisse aos olhos... ou então como se nossos olhos descobrissem o mundo. Ela estava tão longe, eu não poderia vê-la de outra maneira. O que vinha no coração, era um canção antiga que eu cantarolava para que ela ouvisse enquanto fingia que dormia. Eu sabia como era, junto com o cafuné que lhe dava, seus olhinhos fechando vagarosamente, preparando-se para o dia seguinte em que ela usaria o lápis de cor e pintaria o meu sorriso numa flor, ou ainda a lágrima que me escorria, e ela fingia não escutar, enquanto eu fingia a ela que dormia.

 - Pra que chorar? É só um cisco...

Sim, um pedaço de uma poeira que ficou para trás, e a noite, ela corria e me sufocava, tinha alguma coisa no armário, na luz que se apagava, era quando ela corria e se jogava e dormia, e o sono dela que me acalentava, aquele ar quente que ela expelia, dormia tranquila, e toda noite eu sentia sua falta, mesmo ali presente, queria colocá-la em mim novamente, e se possível abraçá-la, com os abraços que só ela podia retribuir.
Mas a vida é tão doce, que nos presenteia com aquilo que não pensamos que poderíamos ter, mas a vida é tão doce e também triste, o lado oposto a doçura, a cabeça no paraíso e os pés no inferno... Mentira! Não é possível que nos haja apenas esses opostos vastos, esse paraíso e inferno, essa mesma moeda, que a consciência se desdobra para achar um ponto de equilíbrio.
Então ela pintava seus sorrisos numa flor, e um dia, quando não havia mais cor, ela inverteu as bolas, passou a pintar a ausência, seu mundo cresceu, sua voz mudou, seu amor, uma falsidade dessas que se encontra numa esquina, ela passou a pintar essas coisas, tentando esconder o passado que estava na ponta do seu nariz, e toda a cor não era cor nenhuma, não era cor de nada, e a solidão que tanto buscara, que tanto aos outros incitara, era uma mentira, ela não estava sozinha, não era sozinha, tão pouco conhecia sobre a solidão.
Um dia, quando não havia tempestade em minha vida, quando estrelas cadentes enfeitavam meu céu, essa doce voz me retornou, não era a destruição que fizeram a ela, mas a que provocara que vinha com ela e o prazer que lhe dava em se fingir vítima, mas do que houvera sido, além do que cometera de crime, sua sombra já não era mais inconstante, se fazia presente até mesmo na escuridão, o que sobrou-lhe do orgulho, foi apenas o fingir não chorar, enquanto me banhava em lágrimas... e apesar de toda a teoria que aprendera, as coisas se resumiam a um guardar de mesas de uma bar.

 - E agora? Para onde vou?
 - Deixo-lhe a sensação de um riso feliz e do meu abraço quente!
 - Eu nunca vou saber... apesar das coisas simples que me dá, o que será desse meu vazio?

Sorrimos... sabíamos o que fazer, nos queriam robô, mas como o ser se somos humanos? Rimos, uma hora o passado voltaria, de outras formas, podíamos filtrá-lo, eu sabia, mas, no jardim a nossa frente, onde no chão havia um desenho da amarelinha, e três letras escrevendo CÉU! Era, o nosso jardim, ela nem via... o havia esquecido... individualismo... eu sei, um dia eu também não vi... deixei ela chorar no seu rir... logo mais ela veria... não antes de  me perguntar melíflua, onde está o meu vazio?

Maria Catarina, 31/05/2015
Prosas Poéticas.

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