sábado, 15 de fevereiro de 2014

Primeiras e Poucas Palavras Sobre Uma Mãe Escritora

Ela engole desprezos em forma de desculpas jorradas dos telejornais; Ela vê um paradoxo de um discurso contra a violência sendo violento, seu menino brinca fantasiando seus irmãos gêmeos como bonequinhos, sem notar a face estupefata de sua mãe diante das mensagens que recebe.
O telefone não para de apitar, e na tela do computador uma rede social atualiza ás criticas á uma ditadura que apenas mudou de forma, atingindo subjetivamente os ideais de um mundo que cerca seu filho, e que cerca todos á sua volta.
Ela não quer fugir, ela quer se libertar, ela escreve para se libertar, atingir o que a voz não alcança, e dá voz em canto onde as palavras por si só não expressam; buscando manifestar o que vê, ela faz um filme curto com milhares de pessoas alojadas nas estações, em plena segunda feira de manhã.  Deixa de lado o seu amor para ver a cara de desânimo e de luta dos alheios.
Deitada na cama, escrevendo sua poesia de quarto, todas as imagens se cruzam e se relacionam, sabendo perfeitamente que os muros se mostram um pouco mais objetivamente, mas ainda camuflados numa paz obscura.
Ela poderia negar toda atualização que a vida lhe oferece, e correr sem querer saber o que acontece, ela poderia buscar uma paz num suicídio filosófico, ou simplesmente esquecer que existe uma cidade, mutável, e que pela sua mutabilidade sua paisagem é estranha.
Porém, não se importar para ela tem mais do que uma passividade, a maioria ostenta sua resignação, ostenta seu esquecimento, e ela por sua vez, nega, e o não importa surge como um soco ou como uma ironia sufocada, e se inspira por que vozes em coro são abafadas. Não é possível, ao enxergar o absurdo, se manter resignado, e então lhe-bate a vontade de ver seu filho um pouco mais liberto, ou ainda como um caminho para que ele saiba o que foi registrado e o que pode ser registrado.
E saber, que como ela, seu filho não viverá só, nunca será por si só solitário em autonomia, mesmo que o exercício de viver lhes exige em momentos a solidão em espírito, a solidão de nem sempre ter uma mão a acariciar lhes o cabelo; não é apenas o futuro de filhos a se desenrolar, mas o presente do NÓS acontecendo.
É hora de parar de pensar nisso por um tempo, é hora do filho dormir, eles se abraçam na cama, eu, que escrevo este pequeno conto, desligo a televisão, e inspirado e dizendo o amor, mesmo sem objetivamente dizer o que é, venho escrever e como ela, tentar me libertar um pouco mais.

Rio de Janeiro, 15/02/1014.

Edgar de C. Santana

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