Ela engole desprezos em
forma de desculpas jorradas dos telejornais; Ela vê um paradoxo de um discurso
contra a violência sendo violento, seu menino brinca fantasiando seus irmãos
gêmeos como bonequinhos, sem notar a face estupefata de sua mãe diante das
mensagens que recebe.
O telefone não para de apitar,
e na tela do computador uma rede social atualiza ás criticas á uma ditadura que
apenas mudou de forma, atingindo subjetivamente os ideais de um mundo que cerca
seu filho, e que cerca todos á sua volta.
Ela não quer fugir, ela quer
se libertar, ela escreve para se libertar, atingir o que a voz não alcança, e
dá voz em canto onde as palavras por si só não expressam; buscando manifestar o
que vê, ela faz um filme curto com milhares de pessoas alojadas nas estações,
em plena segunda feira de manhã. Deixa
de lado o seu amor para ver a cara de desânimo e de luta dos alheios.
Deitada na cama, escrevendo
sua poesia de quarto, todas as imagens se cruzam e se relacionam, sabendo
perfeitamente que os muros se mostram um pouco mais objetivamente, mas ainda
camuflados numa paz obscura.
Ela poderia negar toda
atualização que a vida lhe oferece, e correr sem querer saber o que acontece,
ela poderia buscar uma paz num suicídio filosófico, ou simplesmente esquecer
que existe uma cidade, mutável, e que pela sua mutabilidade sua paisagem é
estranha.
Porém, não se importar para
ela tem mais do que uma passividade, a maioria ostenta sua resignação, ostenta
seu esquecimento, e ela por sua vez, nega, e o não importa surge como um soco
ou como uma ironia sufocada, e se inspira por que vozes em coro são abafadas.
Não é possível, ao enxergar o absurdo, se manter resignado, e então lhe-bate a
vontade de ver seu filho um pouco mais liberto, ou ainda como um caminho para
que ele saiba o que foi registrado e o que pode ser registrado.
E saber, que como ela, seu filho
não viverá só, nunca será por si só solitário em autonomia, mesmo que o
exercício de viver lhes exige em momentos a solidão em espírito, a solidão de
nem sempre ter uma mão a acariciar lhes o cabelo; não é apenas o futuro de
filhos a se desenrolar, mas o presente do NÓS acontecendo.
É hora de parar de pensar
nisso por um tempo, é hora do filho dormir, eles se abraçam na cama, eu, que
escrevo este pequeno conto, desligo a televisão, e inspirado e dizendo o amor,
mesmo sem objetivamente dizer o que é, venho escrever e como ela, tentar me
libertar um pouco mais.
Rio de Janeiro,
15/02/1014.
Edgar de C. Santana
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