terça-feira, 4 de outubro de 2016

Espécie em Extinção parte I

Foi então que a abelha
Pela primeira vez
Pousou na flor.

Era uma abelha miudinha,
Aos olhos dela
Bela e cheia de néctar,
Trazia a certeza
De uma relação única,
Fundamental para toda a coletividade.

E nesse encontro,
Naturalmente
Se apaixonaram.

II

E naturalmente,
Na sua história de amor
Vieram tempos difíceis
Com a flor decaindo-se
Levemente pela terra
Igualzinho às lágrimas da abelha.

E as lágrimas foram indo
Passando a não ter importância
O fluxo da vida levando...

Para a Abelha
Era ùnica a flor
E por isso voltava todos os dias
Uma mania de acreditar
Que logo ela brotaria...

Era o tempo?
Era o momento?
O que está acontecendo?
O que há?

Não há mais flor
Mas sabia a abelha
Que bom néctar ali houvera
E assim faria o possível
Para não esquecê-la
Só para lembrar de quando
Pousava os lábios naquela saliva...


III

Será mesmo que é o tempo?
Um tempo pensado ou um tempo acasado?
O que se sabe é que Aos olhos dela
Outras flores vieram,
Eram muitas, e muito foi o seu trabalho,
A coitada nem imaginava
O porquê de tanta rotina confusa

E aos olhos dela
Não viu renascer a flor querida
Como tanto gostaria.

Tinha memória
Tinha afeto
Mas não tinha tempo
E nem mais a visitava

IV

No jardim daquela pobre casa
A flor trabalhou tanto
Renasceu, cheia da
Saudade de quem um dia
Fora obrigado a se separar
E que agora poderia revê-la

Mas aonde estão aqueles olhos
Lindos que a olhava?

"Cadê você que juntos e,
Como tinha de ser,
Fizemos a vida acontecer?"

V

Lugar do vazio
A flor tinha néctar e tinha beleza
Mas o que é a vida
Sem o outro no nosso dia a dia?

"Onde está minha amiga antiga?
Nem ela e nem o outro,
O tão diferente, uma outra metade,
Ou sabe-se lá, metades..."

Da flor, Néctar algum
Viera abelha beber
Afinal,
Abelha agora é espécie em extinção.

A flor, percebendo a ausência,
De sua amiga, em especial,
E das outras diferentes de si
Desfolhou-se

VI

Desenhando as pétalas no chão
Sob a pintura de uma poesia.
Dizendo a quem diferente fosse
Que uma amiga, ou muitas
haviam se esquecido de aparecer

Pediu a ajuda a outras flores,
As primeiras negaram,
As segundas,
Com desconfiança
Deixaram cair uma ou outra,
Mas nos final,
Aos poucos,
Sentindo a ausência e o vazio,
Foram entregando suas pétalas
Unindo-se uma a uma
Continuando a poesia.

VII

Enquanto ao
Reencontro da Abelha e da flor?
Ao que indica o final está em aberto
A poesia continua sendo escrita
Como naturalmente tinha de ser
Na imaginação de quem Lê
Aos olhos da Abelha
Ou quem sabe,
Naquelas pétalas caídas
Aguardando a próxima estação...




Carsan,

Rio de Janeiro, 03/10/2016




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